*A matança que o mundo preferiu não enxergar
Vocês são um lixo…O ocidente, as superpotências…Tudo aquilo em que você acredita mesmo. Acham que vocês são um lixo, que não valem nada.
(Cel. Oliver – para Paul)
Mortes de inocentes ocorreram — e o mundo virou as costas. Vozes ecoaram, mas nada, absolutamente nada, foi ouvido. A matança aconteceu. E os poderosos ignoraram. Sabem por quê? Simples: eram negros e pobres. O ano do horror foi 1994.
O filme é baseado em fatos e narra a barbárie entre as facções tutsis e hutus em Ruanda, na África. O massacre vitimou cerca de um milhão de pessoas em apenas três meses.
As justificativas dos líderes ocidentais — Bill Clinton, François Mitterrand e Boutros Boutros-Ghali, então Secretário-Geral da ONU — foram vergonhosas: alegaram falta de informações e impossibilidade de intervir. Mentiras deslavadas. Sabiam, sim — tanto que evacuaram seus diplomatas e colaboradores ricos. O mundo desprezou um conflito sangrento porque as vítimas não possuíam valor político nem econômico para os donos do poder.
O diretor Terry George realiza um trabalho admirável, recusando a exploração gráfica da violência. A narrativa acompanha Paul Rusesabagina, interpretado com brilhantismo por Don Cheadle (Crash – No Limite), gerente do Hotel Milles Collines, um refúgio da elite em Kigali. Quando a guerra explode, Paul, mesmo acuado, acolhe centenas de indefesos no hotel, desafiando as ameaças que o cercam. Sua coragem silenciosa revela a grandeza que ainda resiste mesmo nos tempos mais sombrios.
Há uma cena emblemática: o jornalista Jack Daglish (Joaquin Phoenix) registra os massacres e comenta que os espectadores, ao assistirem às imagens, talvez se sensibilizassem — mas logo continuariam seu jantar, indiferentes. É a mais pura verdade. Quando não é na nossa pele, tudo vira notícia descartável. “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.” — a advertência de Edmund Burke ecoa, silenciosa e cruel, sobre a omissão dos poderosos.
Não se iludam: a violência está mais próxima do que se imagina. Enquanto se vendem armas, munições e tanques, os miseráveis pagam com o sangue a festa dos imperialistas.
Corpos aos montes, apodrecendo sob o sol impiedoso. Corpos roxos, com a morte costurada nas entranhas. Nauseante? Sim. Mas real.
E não bastasse a matança, milhares de mulheres foram estupradas brutalmente, transformadas em instrumentos de humilhação e violência étnica. A barbárie em Ruanda não poupou sequer o que ainda respirava.
A guerra civil em Ruanda manchou para sempre o mapa da África. O terror entre as tribos foi alimentado irresponsavelmente pelos grandes senhores do Ocidente, que puseram armas nas mãos de milicianos sem qualquer formação humana.
As atrocidades nazistas foram — e merecidamente — denunciadas com vigor pela mídia mundial. A força política e social da comunidade judaica garantiu que seus mortos fossem lembrados. Já os ruandeses foram esquecidos. Seus clamores se perderam nas savanas. Sobreviveram poucos, muitos relegados ao exílio, marcados pelo horror. Ruanda, ex-colônia belga, tornou-se o retrato de uma carnificina que jamais será apagada.
Hotel Ruanda é um filme que grita a verdade que muitos quiseram silenciar. Imperdível. Necessário.
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