As louras fazem as melhores vítimas. Elas são como virgens que mostram as pegadas sangrentas.
(Alfred Hitchcock)
É o filme que melhor representa a natureza imagética do aclamado diretor Alfred Hitchcock. As novas gerações de cinéfilos devem assistir clássicos como este e a tantos outros que marcaram época. Um bom filme não envelhece, ou melhor, como diz Ruy Castro: Um filme é para sempre. Claro, estamos falando de bons filmes e bons filmes nos tornam seres melhores.
John “Scottie” Ferguson (James Stewart) é um ex-policial da cidade de São Francisco que tem problema físico e mental – sente dores nas costas e tem medo de lugares altos (acrofobia). Ele é contratado por um amigo para uma missão aparentemente tola. O marido desconfia que a mulher Madeleine Elster (Kim Novak) está tendo alucinações e incorporando um espírito de uma ancestral, portanto, deve ser observada pelo detetive. A mulher seguida é um mistério e aguça a curiosidade do já cansado ex-tira.
Com o passar do tempo, ela percebe que seu trabalho – pois fora contatada para representar outra – não envolve somente dinheiro, uma vez que começa a desenvolver afeição por Scottie e entra em drama de consciência. A mulher chama-se Judy e também é interpretada por Kim Novak – O Homem do Braço de Ouro, de 1955.
O plano arquitetado pelo marido, Gavin Elster (Tom Helmore), é intrigante e muito bem elaborado. Ele cria uma mulher pela qual Scottie se apaixona e sepulta momentaneamente os sonhos amorosos do ex-policial quando simula um suicídio da loura misteriosa. É bom frisar que as mulheres loiras sempre fascinaram Hitchcock. Elas eram apresentadas como frias e distantes e, na grande maioria dos enredos, despertavam o interesse de homens aprisionados por sequelas físicas ou psicológicas.
O aparente suicídio da “mulher dos sonhos” leva o detetive a enfrentar uma comissão investigadora que opta por inocentá-lo de qualquer culpa no evento. Ele já carregava o peso da morte de um colega em um acidente de trabalho.
Em razão da perda ele sai às ruas e casualmente encontra uma mulher (Judy) parecida demais com Madeleine. A partir daí, o Mestre do suspense permite que os expectadores entrem na trama, ou seja, participe de um segredo magistralmente conduzido. Na sua obsessão, Scottie obriga Judy a se vestir como Madeleine e, mais uma vez, ela revive o papel de outrora.
É no detalhe de um colar que tudo é desnudado. A descoberta da armadilha traz graves conseqüências às personagens e ambos percebem o quanto foram ludibriados, mas já era tarde demais para controlar a fúria que domina o investigador enganado – ele foi escravo e vítima de uma imagem fabricada por uma mente assassina. Tarde demais para juntarem os corações dilacerados.
Este filme é considerado uma das melhores obras de Hitchcock, sobretudo, por explorar temas preferidos do diretor, dentre eles: obsessão, medo e relação de um homem em uma história insólita. A trilha sonora cria uma atmosfera perturbadora de um desejo que não pode ser estancado e é assinada por Bernard Herrmann.
Um Corpo que Cai é vertigem. É Hitchcock. É uma lição de que podemos ser ludibriados quando nos embasbacamos por uma tentadora loura.