O Grupo Baader Meinhof (2008)

O DELÍRIO ARMADO DE UMA UTOPIA ASSASSINA

“Não é algo místico quando digo que eu não aguento mais. O que eu não aguento mais é não poder me defender.”
(URIKE MEINHOF – na prisão onde morreu)

 

O diretor Uli Edel não romantizou. Não embelezou. Apenas colocou em tela o que foi: o rastro de sangue deixado por uma geração que confundiu rebeldia com terrorismo. O Grupo Baader Meinhof reconstrói, com esmero e brutalidade, a história real da facção terrorista RAF – Facção do Exército Vermelho – que atuou na Alemanha Ocidental entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, deixando mortos, escombros e um discurso vazio alimentado por marxismo de boteco.

Baseado no livro do jornalista Stefan Aust, o filme se ancora nos dois principais nomes da organização: Andreas Baader e Ulrike Meinhof. Ela, jornalista respeitada, mãe de duas filhas pequenas, parecia ter uma vida funcional – até decidir mergulhar num abismo ideológico. O ponto de ruptura foi pessoal: flagrou o marido com uma amiga e saiu de casa. A cena é breve, mas simbólica. A queda começa ali. O que vem depois é adesão cega à luta armada, ao lado de Baader (Moritz Bleibtreu) e Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek), uma jovem decidida a incendiar tudo em nome da revolução.

Gudrun provoca Ulrike logo no primeiro encontro: “Sua masturbação teórica vai mudar alguma coisa?”. Era o tom do grupo: desprezo pela reflexão, culto à ação violenta. Baader, um esnobe com pinta de revolucionário, usava a doutrina marxista como biombo para justificar crimes – roubos, sequestros, assassinatos e atentados covardes. Eram delinquentes com verniz ideológico. A inteligência de Ulrike – bem interpretada por Martina Gedeck – não foi suficiente para impedir que ela se tornasse cúmplice e porta-voz do caos.

Seus manifestos inflamaram jovens deslumbrados, prontos para trocar livros por bombas. Tudo em nome da destruição do “capital” e do “imperialismo americano”. A retórica era grandiosa; a prática, selvagem. O filme deixa isso claro. Andreas gostava da fama. Urike, da causa. E foi justamente essa diferença que gerou a rachadura. As divergências internas cresceram, e em 1972 os principais líderes foram presos. O ator Bruno Ganz em papel secundário, lidera os policiais que os persegue.

Na prisão, o peso da realidade veio com força. Isolada, vigiada, pressionada até pelos próprios companheiros, Ulrike se enforcou com um lençol. Tinha 41 anos. Nos ensina Albert Camus: “O mal que há no mundo vem quase sempre da ignorância, e as boas intenções podem fazer tanto estrago quanto a maldade.” No ano seguinte, Baader e Gudrun também se mataram – uma encenação calculada para criar mártires. Eram apenas mascarados cuspindo violência. Eram, do início ao fim, terroristas.

O Grupo Baader Meinhof não busca piedade nem redenção. Mostra os fatos. Sem disfarces, sem filtro, sem panfleto. E isso basta. É um filme necessário, porque desmonta a farsa ainda defendida por acadêmicos coniventes e nostálgicos do caos. A RAF não foi resistência – foi barbárie travestida de discurso.

Trailer:

 

 

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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