Tributo a Marlon Brando (II)

Continuo dedicando o espaço ao iconoclasta Marlon Brando. Durante os anos sessenta, ele protagonizou alguns filmes que não tiveram grande impacto junto ao público e dedicou-se mais a viajar para o Taiti e viver aventuras pelo interior dos EUA, sobretudo, nas regiões do Novo México, Arizona, Dakota do Sul, além de lugares isolados da Califórnia – saía sozinho em sua motocicleta sentindo a sensação da liberdade.

Disse em seu livro autobiográfico – Canções Que Minha Mãe Me Ensinou – que recusou vários papéis sem ao menos ler o roteiro, pois não queria mais dinheiro, já que por força de lei teria que dar metade a sua ex-mulher e isso o irritava.

Nesta década, participou no ano de 1967 do filme A Condessa de Hong-Kong dirigido pelo gênio cinematográfico Charles Chaplin, em cujo elenco estava a italiana Sophia Loren. Foi durante estas filmagens que conheceu o outro lado da face de Chaplin a quem definiu como: “Provavelmente era o homem mais sádico que já havia conhecido. Era um tirano egoísta e avarento que vivia atormentando os outros quando se atrasavam”. Nesta época, Chaplin vivia em Londres, em face da perversa perseguição que sofrera na América e, com certeza, isso o tinha magoado muito. Após um incidente entre ambos, que Charles pediu desculpas, o convívio foi pacífico até o final dos trabalhos. Foi assim toda a sua vida, jamais se moldou as regras estabelecidas – sempre fugia ao que o diretor determinava. Tal atitude sempre gerou conflito entre ele e quem dirigia, exceção para Elia Kazan, Coppola e Bertolucci. Rod Steiger, co-protagonista do estupendo Sindicato de Ladrões (1954), disse o seguinte: “Ele tinha o que se pode chamar de combinação perfeita, tinha um talento incrível, era um símbolo sexual e se negava a aceitar compromissos. Tornou-se a expressão de uma interpretação verdadeira e realista, que nunca teria existido sem ele”.

A sua atuação em O Poderoso Chefão (1972) é segundo alguns críticos a melhor performance de um ator em todos os tempos. Opinião compartilhada pela a expressiva maioria dos cinéfilos, embora ache que seu melhor desempenho é no western A Face Oculta (1961). Segundo dezesseis especialistas que trabalharam em uma enquete para a revista americana “Premiere”, o mafioso Vito Corleone, interpretado por Marlon Brando é considerado o mais emblemático papel da história do cinema.

Em Viva Zapata!(1952) surpreendeu pelo aspecto físico que incorporou ao personagem, sem falar na interpretação mais uma vez irrepreensível, inclusive, foi indicado novamente ao Oscar. Qual outro ator conseguiu viver personagens tão diferentes: alemão, mexicano, mafioso, bandoleiro e tantos outros com tanta perfeição?

Várias mulheres passaram por sua vida e comenta-se que teve nove filhos. Ele gostava de mulheres exóticas e geralmente morenas, entre elas, destaque para a atriz potoriquenha Rita Moreno – parceira no filme A Noite do Dia Seguinte, de 1968 – e a mexicana Movita Castaneda. Seu primeiro casamento foi com a atriz Anna Kashfi, com quem teve um filho chamado Cristian, que no ano de 1990 assassinou o namorado de sua filha Cheyenne – esta fruto da relação com a taitiana Tarita Teriipaia. Pelo homicídio, seu filho foi condenado a dez anos de prisão e foi, sem dúvida, um momento difícil na vida do ator. O sofrimento aumentou com o suicídio da filha Cheyenne, acontecido no ano de 1995.

Viveu um relacionamento amoroso com sua ex-empregada Christina Ruiz. Teve inúmeros casos com mulheres casadas, inclusive, um deles durou 13 anos e a amante morava em Beverly Hills. Segundo ele foi o lugar onde viu mais pessoas infelizes. Desiludido com a profissão de ator, afastou-se do mundo de Hollywood e terminou por ficar isolado em sua casa, além de longas temporadas no atol do Taiti, quando ficava na ilha de Teti’aroa na Polinésia francesa que ele carinhosamente chamava de “minha ilha da felicidade”. Foi lá que conheceu a atriz Tarita, durante as filmagens de O Grande Montin (1962).

É difícil dizer qual o melhor desempenho de Brando em face de ser um ator que não se repetiu, pois tinha uma forma de atuação viva, visceral e que expressava na tela um talento magnífico. Sofreu grande influência de Stella Adler, que ministrava aulas no Curso de Teatro da Nova Escola de Nova York.
Um dos aspectos que temos de observar na sua trajetória cinematográfica é sua maneira quase real como morre em alguns filmes, dentre eles, Os Deuses Vencidos (1958), Viva Zapata! Último Tango em Paris (1972) e O Grande Montin. Para o companheiro de filmagens em O Poderoso Chefão, Robert Duvall, Marlon Brando foi maior que Lawrence Olivier e o cinema fica com uma lacuna impreenchível.

Seu último filme foi Cartada Final (2001), onde apenas aparece como mentor de um roubo e atua ao lado de talentos como Robert De Niro e Edward Norton, formando um trio que representa três gerações e formas parecidas de atuação.

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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