Hoje, dedico este espaço a um ator incomparável: Marlon Brando Júnior. Ele nasceu no dia 03 de abril de 1924, na cidade de Omaha, no Estado de Nebraska (EUA) e morreu aos 80 anos de idade no dia 01 de julho de 2004, em Los Angeles. Sua infância foi alternada por bons e maus momentos, sendo que os maus o marcaram para o resto de sua vida e influenciaram em suas memoráveis interpretações. Além da união com as irmãs era alucinado por sua mãe e dedicava a ela todo o carinho possível. Sua mãe morreu no ano de 1953 durante as filmagens de Sindicato de Ladrões e chegou a frequentar o set. Em seu livro autobiográfico “Canções Que Minha Mãe Me Ensinou”, revela todo seu afeto pela família.
Aos dezenove anos mudou-se para Nova York e começou sua vida como ator de teatro, estudando técnicas de atuação baseadas no modo Stanislavsky, que consistia em recorrer a suas próprias emoções para encarnar um personagem. Seu primeiro papel na Broadway foi na peça I Remember Mama, em 1944. Com seguidos elogios da crítica, interpretou Stanley Kowalski em uma montagem de Um Bonde Chamado Desejo e foi sucesso de público e crítica no meio teatral no ano de 1947.
Marlon Brando mudou para sempre a maneira de interpretar e foi, indiscutivelmente, um ator completo, nunca se repetiu e alguns fracassos se devem talvez a sua própria irreverência e rebeldia, pois teve a coragem de dizer verdades que muitos não queriam e nem querem ouvir, chegou a afirmar que a profissão de ator é como a de um vagabundo qualquer: faz tudo por dinheiro.
Seu primeiro filme foi Espíritos Indômitos (1950), que teve a direção de Fred Zimmerman e sua participação foi irrepreensível. Anos depois fez o aclamado Sindicato de Ladrões (1954), sob a marcante e discutida direção de Elia Kazan. Este filme consagrou Brando e lhe rendeu o Oscar de melhor ator, que só veio a ganhar novamente anos mais tarde em O Poderoso Chefão (1972). Sabemos que a estatueta é uma premiação política e muitas vezes não traduz a verdade e, tampouco, premia os verdadeiros talentos, tanto que o eterno “chefão” esbanjou o segundo prêmio e como protesto mandou a atriz Sacheen Little Feather, disfarçada de índia, ler uma carta denunciando o tratamento dado aos índios.
Recusou vários papéis, entre eles, o de ator principal dos consagrados filmes Lawrence da Arábia e Ben Hur. Quem sabe isto não foi um alerta dos deuses, pois assim Peter O’Toole teve sua chance e, sem dúvida, teve uma atuação marcante no belíssimo filme de David Lean. O que me fascina em Brando foi sua autenticidade, sua lealdade aos seus princípios, seu modo de ser quanto homem, pois jamais foi visto bajulando poderosos, pelo contrário, se identificava com os injustiçados de todos os matizes e defendia causas como as dos índios e negros. Foi praticamente o único branco a ir ao enterro de Bobby Hutton – membro do grupo Panteras Negras – assassinado em um lamentável episódio envolvendo policiais.
Na qualidade de ator, com respeito a Al Pacino, Robert De Niro, Gérard Depardieu, Daniel Day-Lewis e outros grandes intérpretes, o considero incomparável e suas interpretações alcançam um patamar consagrado aos predestinados. Ator emblemático, de uma naturalidade ímpar, quando vestia a roupagem da personagem é como se vivesse a realidade nas telas. Está impecável em Os Deuses Vencidos (1958) interpretando um oficial nazista e consegue dar ao personagem um lado humano. Sua atuação no faroeste A Face Oculta (1961) é impecável e não comete um só erro durante todo o filme – um de seus favoritos, inclusive, foi também o diretor.
Fez um filme pouco visto pelo público, chamado Queimada!(1969), dirigido por Gillo Pontecorvo a quem atribui ser o melhor diretor com quem trabalhou depois de Elia Kazan e Bernardo Bertolucci. Em Último Tango em Paris (1972), dirigido por Bertolucci dedicou-se muito e foi praticamente sua despedida antes de começar o processo de deformação física, quando chegava a consumir dois kilos de sorvete de uma só vez.
Quando o vejo dançando fora da etiqueta com Maria Schneider digo: Uma despedida em alto estilo, pois a partir deste trabalho ele apenas fez alguns filmes só por dinheiro, como ele mesmo declarou e pequenas participações e, por incrível que pareça, consegue nos brindar com uma aparição fantasmagórica no imperdível Apocalipse Now (1979), dirigido por Coppola, quando vive o misterioso Cel Walter Kurtz; e, como se fosse seu estertor cinematográfico, diz: “o horror, o horror”. São suas palavras quando é impiedosamente esquartejado pelo seu algoz, o Capitão Benjamin Willard (Martin Sheen). Depois eu falo mais. Brando sempre Brando…
Filme, Queimada! de Pontecorvo.