Retratos da Vida (1981)

Todos meus filmes, sem exceção, foram jogados na lama pela crítica. E eu já fiz mais de 40 filmes. (Claude Lelouch)

Quando digo que muitos filmes passam despercebidos é porque entendo que o público não terá a oportunidade de vê-los. Aqui está um exemplo. Retratos da Vida é um filme arrasador e que nos marca para todo o sempre. Infelizmente, não teve a devida divulgação no mundo do cinema. A obra de Claude Lelouch é, sem dúvida, um filme que encanta e continuará a encantar espectadores mundo afora.

A película narra a trajetória de quatro famílias de diferentes nacionalidades – Estados Unidos, Franca, Alemanha e Rússia – que se cruzam em circunstâncias históricas durante a II Guerra Mundial. Mesmo diante da diversidade cultural, os protagonistas se unem por meio da dança, da música, do amor e do drama. No elenco estão bons atores, como: James Caan (Louca Obsessão, de 1990), Robert Houssein, Geraldine Chaplin (Doutor Jivago, de 1961), Nicole Garcia, Fanny Ardant entre outros.

Este clássico reproduz o Bolero de Ravel, com uma coreografia marcante de Jorge Donn – bailarino argentino já falecido – em pleno Trocadero parisiense. Na abertura, o diretor mostra um jovem dançando com gestos suaves, fleumáticos e em perfeita sintonia com a música, nesta cena já sentimos a grandeza do filme. O dançarino parece estar só, mas, na verdade, incorpora os sentimentos das personagens envolvidos e ao final, após assistirmos a obra, mergulhamos na magia de seus gestos.

A música tornou-se uma verdadeira onda entre os cinéfilos, na época em que foi lançado, sendo quase impossível ouvir e não associá-la ao brilhante trabalho de Lelouch. O filme é o enfoque das diferenças e mostra que a arte não pode sucumbir diante da rudeza e brutalidade de homens.

O artista pertence ao universal e não pode sofrer preconceito, discriminação, intolerância ou qualquer outra forma de censura.

O drama, entre outras coisas, retrata a vida de um jovem músico alemão que paga um preço alto demais, porque um dia, no passado, tocara em um concerto e lá estava Adolfo Hitler para cumprimentá-lo. O povo judeu não esqueceu. A vingança é sórdida, todos os ingressos de sua apresentação em Nova York são comprados e não aparece ninguém para o espetáculo. Mostra, também, um casal diante da monstruosidade da guerra, obrigado a abandonar um filho pequeno numa estação de trem para livrá-lo dos nazistas. Um gesto doloroso, um arrebatamento da fibra que enlaça nossos corações, mas que salva uma vida. As chagas da guerra são incuráveis. Rezemos para nunca passar pelo campo de batalha.

Retratos da Vida é um filme envolvente, que toca o coração. Cinema em toda sua beleza plástica. O Bolero foi composto em 1928, por Joseph Maurice Ravel, que faleceu em Paris, no dia 28 de dezembro de 1937. Ele viveu seus últimos cinco anos praticamente paralisado, vítima de um acidente de carro, mas, com certeza, foi o “grande regente” desta imortal obra.

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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