Match Point foi fantástico, absolutamente fantástico de fazer. Não achei que seria, mas foi fabuloso. Em primeiro lugar, o tempo estava ótimo, porque era Londres no verão, então é fresco.
(Woody Allen)
Muitas vezes, a primeira imagem nos leva a fazer um juízo de valor antecipadamente, mesmo sem conhecermos os fatos. Nem tudo é um ponto final nos acontecimentos delineados em nossa volta, notadamente, se ainda é possível um deslocamento mecânico ou o exercício do pensar. Uma bola de tênis suspensa sobre a rede e não sabemos de que lado vai cair. Se passar, você ganha. Se voltar, você perde. Será? É neste clima de dúvida que Woody Allen inicia seu melhor trabalho cinematográfico: Ponto Final – Match Point.
Confesso que, após este filme, passei a ter uma visão mais apurada e criteriosa em relação a filmografia deste audacioso cineasta. Allen – Crimes e Pecados, de 1989 – tem sido vítima do preconceito de muitos críticos e cinéfilos, talvez por não ter o estereótipo do herói retratado nas telas. Seus filmes são marcados por um mergulho profundo ao interior das personagens em suas relações de vida. Bergman é sua maior influência.
Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) é um professor de tênis – esporte favorito dos ricos – que quer algo mais e, para isto, arquiteta uma maneira de penetrar no âmago da alta burguesia londrina, onde o filme é ambientado. O drama acontece num país onde a hierarquia social tem relevância histórica. Ele é contratado por um clube frequentado pela alta sociedade e tudo fica mais fácil quando conhece o aluno Tom Hewett (Matthew Goode) que, inocentemente, abre espaço para o jovem ambicioso se tornar íntimo de sua afortunada família.
Na sua inabalável ambição, o jovem ex-tenista, conquista o frágil coração da insossa Chloe Hewett (Emily Mortimer), irmã de Tom, além de iniciar um flerte com a noiva do amigo que abriu portas para seu maquiavélico desejo. Diferentemente de Chris, a bela e jovem Nola Rice (Scarlett Johansson) não deseja apenas ser a garota de um cara rico e sim emplacar uma carreira de atriz.
O pai de Chloe simpatiza com o jovem professor e namorado de sua única filha e, como compensação, o inclui no ramo dos negócios, empregando-o em uma de suas empresas. Como seria inevitável, acontece o casamento, selando o almejado sonho de Chris com o fechado clã dos endinheirados – ele sabe que terá de pagar um preço altíssimo para viver naquele seleto mundo.
Chris Wilton e Nola – já separada de Tom, se tornam amantes e o caso vai tomando rumos incontroláveis, sobretudo quando ela conta ao amante que espera um filho. A partir daí, o filme mergulha no universo da mentira e traição, estampando uma violência inominável contra uma jovem mulher grávida e uma inocente vizinha que nada tinha a ver com aquele repugnante desenlace.
O meticuloso plano é elaborado pelo infiel marido, que, mesmo diante da angústia da dúvida e, um pouco hesitante, optar pela sólida vida que “construiu” ao lado da rica mulher. O modus faciendi usado pelo protagonista para executar seu intento homicida é assustador e a todo tempo o fundo musical “nos avisa”, desde o início, que estamos diante de um homem ambíguo e sem caráter. A vida lhe concede o saque da vitória: a impunidade. Perde, no entanto, para a consciência. Muito bem compendiou esta passagem o crítico Luiz Geraldo Miranda de Leão (LG), quando disse: …Enquanto isso, Chris remói sua dor íntima e conversa depois com seus fantasmas – ambas mortas, a amante e a vizinha – signo de um remorso profundo a marcá-lo por toda a vida. no livro Analisando Cinema: Críticas de LG.
Ponto Final é uma lição de vida e tenho certeza que, depois de assisti-lo, se for comprometido, pensará muito antes de se aventurar numa paixão proibida, pois nem sempre a vida imita a arte e você poderá não ter a mesma sorte de Chris, ou seja, se a bola cair no campo que o incrimina e lhe faltar sorte, será tarde para arrependimentos.
Trailer: