Cresci num bairro violento. Dizíamos:’Você se dá melhor com uma palavra delicada e uma arma…do que só com a palavra delicada’.
Al Capone para os jornalistas.
O filme tem início com Al Capone (Robert De Niro) zombando do sistema legal – ele acreditava na impunidade, muitos têm certeza. Na cena seguinte, uma garota e outros inocentes são vítimas do crime organizado, quando uma bomba explode em um bar. Será sempre assim: os celerados não medem distância para concretizar seus planos criminosos e o Estado emperra nos freios legais e excessivamente burocráticos para fazer valer a Justiça que queremos. As leis penais são frouxas e superadas no tempo, sobretudo aqui no Brasil.
O Diretor Brian De Palma (Femme Fatale, de 2002) escolheu um elenco de primeiríssima grandeza, com destaque para Robert De Niro, Kevin Costner e Sean Conery ( O Nome da Rosa, de 1980). A trilha sonora é de Ennio Morricone, premiado pela academia de Hollywood pelos seus magníficos trabalhos no mundo do cinema.
Malgrado um pouco de heroísmo do agente federal Eliot Ness (Kevin Costner), e algumas sequências calculadas demais – fugindo do estilo do próprio diretor – o filme é daqueles que guardamos na memória. Tem um visual excelente e guarda perfeita sintonia com a época vivida pelo famigerado gângster Al Capone.
Na busca de conseguir provas que possam levar Al Capone para a cadeia, o insubornável Ness forma um pequeno grupo de colaboradores, que, como ele, também são íntegros. O seleto time conta com o policial Malone (Sean Connery) – vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante – o contador Oscar Wallace (Charles Martin Smith) e o novato tira Giuseppe Petri (Andy Garcia). O quarteto inicia uma verdadeira caçada aos facínoras que dominam a corrupta Chicago dos anos 1930, quando impera a lei seca e a venda ilegal de bebidas era uma forma de fazer fortuna.
O obstinado agente do governo não medirá esforços para vencer a cruzada que aceitou – ele enfrentará a corrupção policial, a tentativa de suborno de autoridades locais e toda sorte de desalmados. Sabedor do perigo que o cerca, Eliot Ness terá de ir um pouco mais além do que lei permite; afinal, o sistema está contaminado e não se pode confiar em mais ninguém. A trama vivida pelos protagonistas não é muito diferente do que acontece hoje no nosso Brasil e em muitos países mundo afora, onde o crime cresce e se organiza cada vez mais.
O trabalho de Brian tem algumas cenas inesquecíveis, entre as quais, destaco: o momento em que o policial Malone é abatido com vários tiros e arrasta-se pelo chão da casa; uma cena muito bem conduzida, principalmente, no instante que a voz do tenor entra interpretando Vesti la Giuba – Il Pagliacci – de Leoncavallo; um dos mais belos momentos da sétima arte.
Outro ponto alto do filme é a firmeza da interpretação de Robert De Niro – um Capone seguro e assustador, bastando ver quando ele mata um comparsa durante uma reunião de “negócios”. Sim, é suficiente esta visão para sentir a sua força dentro da obra, mas, outra tomada marcante é a que ocorre na escadaria do hotel – uma ponta do legado de Brando para o cinema, pois De Niro incorpora a cena do píer vivida por Marlon Brando no aclamado Sindicato de Ladrões.
Os Intocáveis não recebeu os prêmios esperados, mas teve boa aceitação do público. A crítica fez restrições ao filme por entendê-lo previsível. A obra, entretanto, foi inspirada em fatos e não poderia ser descomedida do que está registrado. Vale muito ver e rever este clássico pelo magistral elenco e seu apurado estilo visual.
Trailer: