Rápido…simples…sem testemunhas. E, então, é só deixar o tempo apagar.
(Howard combinando o crime)
Continuo na filmografia de Woody Allen. Ele vem alternando o foco nos últimos anos. Intercalou as comédias românticas com a teia dramática para criar obras memoráveis – Match Point é uma prova disto. Diria que Allen voltou a uma de suas origens, mesmo porque, lá atrás, fez Crimes e Pecados, de 1989, com Martin Landau, Alan Alda e Anjelica Huston, sendo este filme o embrião de Ponto Final, de 2006.
Em O Sonho de Cassandra, temos Ian Blaine (Ewan McGregor – O Escritor Fantasma, de 2010) e Terry Blaine (Colin Farrell), irmãos unidos, mas muito diferentes no modo de vida que levam. Ian é o mais velho e dirige a contragosto o restaurante do pai. Ele sonha com um mundo mais rico, e vive de aparências. O mais novo é um modesto mecânico de automóveis, não tem planos de crescer profissionalmente. Adora jogos de azar, mesmo que isso lhe custe viver pedindo dinheiro emprestado.
Eles vivem na cidade de Londres. Nas cenas inicias, o genial Allen faz uma tomada dos dois velejando em um barco, onde falam dos sonhos e se divertem na companhia de duas garotas. A música de fundo anuncia a alegria do grupo. Os pensamentos de Ian, no entanto, estão voltados para conquistar o mundo dos negócios milionários. Na busca pelo sucesso financeiro, ele aceita a empreitada que seu abastado tio Howard (Tom Wilkinson) propõe: matar um inimigo. Motivados pela ganância e pelo espírito de vingança, respectivamente, eles tentam convencer o inseguro Terry a aceitar o plano macabro. Howard argumenta que: família é família e sangue é sangue.
As dívidas de Terry falam alto, e ele aceita participar do plano assassino. Mesmo hesitantes, terminam por matar o suposto desafeto numa emboscada. Tudo parece ter saído bem. Aparentemente, não deixaram pistas. E, afinal, o bondoso tio irá recompensá-los.
Na verdade, a razão maior do crime foi o dinheiro ofertado; os laços sanguíneos não foram relevantes, mesmo porque logo adiante isso nos é revelado. Como na vida real, quando alguém não tem vocação para o crime, dificilmente consegue segurar o mostro interior que grita. É o que acontece com Terry: ele não suporta o peso da culpa e diz que vai procurar a polícia – aí foi o começo do fim.
Diante da situação vexatória, Ian conversa com seu tio e ambos decidem que Terry deve morrer. Era preciso silenciá-lo! Só a morte faz isso. E num diabólico plano, o irmão o convida para um passeio no pequeno veleiro, para, enfim, matá-lo e sepultá-lo numa cova que nunca mais se abre. Nem tudo sai como planejado – as águas guardam segredos.
O Sonho de Cassandra – no filme é o nome do barco dos irmãos Blaine – na mitologia grega era a Deusa que anunciava tragédias. Os sonhos terminam, e tudo acaba. Mais uma sessão de Allen sem o alcance da lei. Não deixe de ver.