O Cara vai todo dia à estação para ver se acha o assassino, doutora. É como se a morte dessa mulher o tivesse deixado preso no tempo, para sempre.
(Espósito falando do caso)
Um dos melhores filmes argentinos dos últimos tempos, talvez, o mais aclamado. Ganhador de muitos prêmios internacionais, alcançou o patamar dos protegidos de Hollywood, demonstrando que na América do Sul se faz belos trabalhos.
O diretor Juan José Campanella focou seu trabalho em algo comum na vida de muitas pessoas – a certeza da impunidade. Criminosos matam e ficam livres, mesmo diante de condenações. Aqui no Brasil a lei quase não pune, faz de conta que pune e, assim, vamos tocando nossas vidas.
Benjamín Espósito (Ricardo Darín – O Filho da Noiva, de 2001) é um oficial do juizado que está aposentado. No passado, um crime que ele investigou ficou sem solução, e isso o atormenta nos seus dias atuais. Ele sempre foi apaixonado por sua diretora Irene Menéndez (Soledad Villamil), mas foi tímido e não teve coragem de revelar o desejo. Quando você desejar uma mulher livre não deixe de dizer isso a ela, você não estará cometendo crime algum. Há uma frase que representa bem a fraqueza do então oficial, quando Irene fitando-o nos olhos diz: Não sou intocável. E não venho de outro mundo.
Reviver o passado será muito doloroso para Benjamin, maiormente quando promete justiça ao marido da jovem que foi assassinada há 25 anos. Nem sempre o sistema pune o infrator como desejamos. É o que acontece na película de Campanella.
O marido da mulher estuprada e morta é Ricardo Morales, um homem sem vocação para a vingança, mas que desperta de seu mundo cotidiano quando é molestado pelo ex-oficial, e termina por “sentenciar” o matador de sua amada à prisão perpétua em um lugar privado.
O tema do amor é muito forte, e percebemos que Benjamin e Irene perderam suas vidas, ou melhor, perderam o melhor da vida, pois no ardor da juventude não foram fortes para mergulharem no mundo infinito da paixão – lembranças de um amor não correspondido machucam muito.
A maquiagem é maravilhosa, as personagens são envelhecidas como se o toque fosse da vida real. Os planos são muito bem sequenciados. O diretor passeia pelo drama, mergulha no suspense e termina por flertar com o romance, tudo sob sua batuta firme e sem truques para confundir o espectador. A cena no estádio do Racing é memorável; os enquadramentos, tudo flui com um realismo surpreendente.
O Segredo de Seus Olhos é um filme magnífico, uma película que não adormece nas nossas memórias, fica viva por muito, muito tempo mesmo. Assista-o!