No terceiro Chefão, finalmente Coppola nos revela que, desde o início, era de tragédia que se tratava. Não há terceiro Chefão, a rigor. Apenas terceiro ato.
(Inácio Araújo – crítico de cinema)
Último filme da saga Corleone e, como nos dois primeiros, nada a retocar. Michael (Al Pacino) tenta legalizar os negócios da família e se alia à Igreja Romana, fazendo uma doação de 100 milhões de dólares, recebendo em troca a ordem de San Sebastian. Alguns cardeais não concordam com o fato da Igreja estar ligada a um mafioso, mas os argumentos são fracos diante do rombo que a congregação tem de cobrir.
O poder do Padrinho – expressão para designar o chefão mafioso – é no final repassado a “Vinnie” Mancini (Andy Garcia), filho bastardo de Sony (James Cann), morto no episódio inicial. Michael se reaproxima da ex-mulher Kay (Diane Keaton), a quem entregou a guarda dos filhos, mas apenas porque a família vai prestigiar o filho, Anthony Corleone, em sua estreia no teatro, mas sentimos no filme que ele ainda a ama.
A coragem de Francis Ford Coppola – Drácula de Bran Stoker, de 1992 – ao retratar, com ousadia, a morte de João Paulo I, custou-lhe a retaliação da Academia, pois negou qualquer premiação ao filme, o que revela o lado conservador e o falso moralismo de seus integrantes. A simples passagem do tempo mostrou que o “veredicto” foi um erro. Entendo que tal prêmio não é parâmetro para julgar um filme clássico como este e tantos outros injustiçados e discriminados por Hollywood. Apenas comento para mostrar que lá as coisas não são sérias. Muitos críticos foram precipitados na análise do trabalho de Coppola, talvez uma forma de agradar os poderosos da Igreja Católica.
A película tem uma das mais belas cenas da história cinematográfica, quando o filho de Michael, Anthony (Franc D’ Ambrósio) canta Brucia la Terra e ele revive seu primeiro casamento com a linda Apollonia (Simonetta Stefanelli). É algo contagiante e inesquecível. O cinema deve muito a este diretor, que consegue mostrar a máfia por dentro e com um charme sem igual, pois, mesmo violento, o filme tem um toque refinado.
As cenas finais acontecem onde tudo começou, ou seja, na violenta Sicília, onde Michael reencontra velhos amigos, como Dom Tomasino (Vittorio Duse), que fala dos bastidores do Vaticano e informa quem são os traidores.
Na confissão que faz ao futuro Papa João Paulo I, ainda como o cardeal Lamberto, Michael relata seus pecados e pergunta: “Tenho perdão, se matei o filho de minha mãe, o filho de meu pai?” O confessor responde: “seus crimes são monstruosos; é justo que sofra”. Aqui está seu arrependimento pela morte do irmão Fredo e talvez por seus crimes, pois no exercício do poder mafioso extrapolou os limites da tolerância entre os criminosos.
Sem forças e doente, o filho de Vito Corleone não tem meios de impedir que Vincent copie seu ato no episódio primeiro, e como no massacre do batismo, elimina todos aqueles que tentaram minar os negócios da família. Membros da igreja são assassinados e mais uma vez Coppola expõe o lado escuro da Cúria Romana. Entre os traidores está Don Altobello (Eli Wallach) e sua morte acontece durante a ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni, quando Conie Corleone (Tália Shire) coloca veneno em uns chocolates e, no teatro, observa o falso Altobello morrer lentamente degustando o aparentemente inofensivo doce – “morre Padrinho!”
A cena na escadaria é antológica, quando sua filha Mary (Sofia Coppola) é morta e Michael Corleone transcende a realidade e grita, grita por todos seus crimes. Aqui, o fim da mais bela trilogia do cinema.
Trailer: Versão remasterizada.