Eu não queria morrer aqui. Não quero morrer no deserto. Queria um enterro mais elaborado. Hinos específicos. Eu sei onde quero ser enterrada. No jadim onde cresci…
(Katharine – ferida na caverna)
Filme realmente sensível e com locações esplêndidas A história é contada com suporte nas lembranças de Almásy (Ralph Fiennes – O Morro dos Ventos Uivantes, de 1992) que está à beira da morte e recebe tratamento da enfermeira Hana (Juliette Binoche) – que, por esta atuação, foi premiada com um Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Um pequeno avião inglês sobrevoando suavemente as fascinantes paisagens do deserto e, num átimo, é abatido a tiros e cai. Após esta cena, quase tudo é fragmentado na memória do “paciente inglês”, que, no filme, era o Conde húngaro Lazslo de Almásy. Ele, porém, não era inglês; foi assim denominado por não se saber quem era aquele homem desfigurado pelas queimaduras.
O drama é mostrado em flashbacks e tem, na angústia de Almásy, seu ponto alto, pois em seus estertores de dor é afagado pelas recordações da pulcra e sedutora Katharine Clifton (Kristin Scott Thomas), uma mulher casada com quem se envolveu. A guerra o privou de ter ao lado da amada um tempo mais longo, e o pior, um de seus amigos morreu pensando que ele fosse um traidor, pois entregara os mapas da Real Sociedade Geográfica aos alemães e, se isto fez, foi para tentar salvar a amante que estava ferida em uma caverna, no deserto. Além de ser um homem solitário, o enfermo tenta esconder coisas de seu passado e não se consegue decifrar o que oculta.
Trata-se de um longa-metragem lento e não poderia ser diferente, uma vez que temos diante de nós as reflexões de um moribundo em seus derradeiros momentos. Tudo acontece durante o decorrer da Segunda Guerra Mundial, no norte da África. O diretor Anthony Minghella revela sensibilidade na condução do filme e nos mostra o quão somos premiados pelo simples fato de não passamos pela brutalidade da guerra. Basta olhar a cena em que Caravaggio (Willem Dafoe) tem seus dedos amputados a sangue frio. Ele entra na história porque acusa Almásy de ser o responsável pelo seu decepamento.
Temos de ressaltar que o diretor foi decisivo na escolha dos atores pois, mesmo sendo até então um desconhecido, teve pulso forte e não cedeu às exigências dos grandes estúdios estadunidenses e, assim, impôs seu estilo. A obra é baseada no livro homônimo do canadense Michael Ondaatje, ganhador do prêmio Booker do ano de 1992, a premiação máxima da literatura inglesa. Ganhador de de nove estatuetas e premiado em outros festivais, O Paciente Inglês é um filme bem aceito pela crítica – com raríssimas opiniões contrárias – e não muito conhecido pelo grande público.
As últimas cenas mostram Geoffrey Clifton (Colin Firth) tentando matar Almásy, pois se sente traído pelo amigo, uma vez que descobre o tórrido romance: Katharine era sua mulher. O envolvimento foi um erro? Quem sabe, afinal, resultou em sofrimentos dolorosos e na morte dos envolvidos. Às vezes, o amor é um sentimento que cega e, ao mesmo tempo, esta cegueira pode ser também destruição do mais sublime dos sentimentos.
É sem dúvida a melhor interpretação de Kristin, que também fez Quatro Casamentos e Um Funeral, de 1994 e Lua de Fel, de 1992, entre outros. Em todas as tomadas, consegue passar-nos segurança e está bem no papel de uma inglesa aristocrática. Na tela, mostrou ser uma amante decidida que vive a paixão intensamente. Um filme que me leva a questionamentos e duvidas. Os desejos devem ser vividos? Mesmo quando proibidos?
Trailer: