O Paciente Inglês (1996)

Eu não queria morrer aqui. Não quero morrer no deserto. Queria um enterro mais elaborado. Hinos específicos. Eu sei onde quero ser enterrada. No jadim onde cresci…
(Katharine – ferida na caverna)

Filme realmente sensível e com locações esplêndidas  A história é contada com suporte nas lembranças de Almásy (Ralph Fiennes – O Morro dos Ventos Uivantes, de 1992) que está à beira da morte e recebe tratamento da enfermeira Hana (Juliette Binoche) – que, por esta atuação, foi premiada com um Oscar de melhor atriz coadjuvante.

Um pequeno avião inglês sobrevoando suavemente as fascinantes paisagens do deserto e, num átimo, é abatido a tiros e cai. Após esta cena, quase tudo é fragmentado na memória do “paciente inglês”, que, no filme, era o Conde húngaro Lazslo de Almásy. Ele, porém, não era inglês; foi assim denominado por não se saber quem era aquele homem desfigurado pelas queimaduras.

O drama é mostrado em flashbacks e tem, na angústia de Almásy, seu ponto alto, pois em seus estertores de dor é afagado pelas recordações da pulcra e sedutora Katharine Clifton (Kristin Scott Thomas), uma mulher casada com quem se envolveu. A guerra o privou de ter ao lado da amada um tempo mais longo, e o pior, um de seus amigos morreu pensando que ele fosse um traidor, pois entregara os mapas da Real Sociedade Geográfica aos alemães e, se isto fez, foi para tentar salvar a amante que estava ferida em uma caverna, no deserto. Além de ser um homem solitário, o enfermo tenta esconder coisas de seu passado e não se consegue decifrar o que oculta.

Trata-se de um longa-metragem lento e não poderia ser diferente, uma vez que temos diante de nós as reflexões de um moribundo em seus  derradeiros momentos. Tudo acontece durante o decorrer da Segunda Guerra Mundial, no norte da África. O diretor Anthony Minghella revela sensibilidade na condução do filme e nos mostra o quão somos premiados pelo simples fato de não passamos pela brutalidade da guerra. Basta olhar a cena em que Caravaggio (Willem Dafoe) tem seus dedos amputados a sangue frio. Ele entra na história porque acusa Almásy de ser o responsável pelo seu decepamento.

Temos de ressaltar que o diretor foi decisivo na escolha dos atores pois, mesmo sendo até então um desconhecido, teve pulso forte e não cedeu às exigências dos grandes estúdios estadunidenses e, assim, impôs seu estilo. A obra é baseada no livro homônimo do canadense Michael Ondaatje, ganhador do prêmio Booker do ano de 1992, a premiação máxima da literatura inglesa. Ganhador de de nove estatuetas e premiado em outros festivais, O Paciente Inglês é um filme bem aceito pela crítica – com raríssimas opiniões contrárias – e não muito conhecido pelo grande público.

As últimas cenas mostram Geoffrey Clifton (Colin Firth) tentando matar Almásy, pois se sente traído pelo amigo, uma vez que descobre o tórrido romance: Katharine era sua mulher. O envolvimento foi um erro? Quem sabe, afinal, resultou em sofrimentos dolorosos e na morte dos envolvidos. Às vezes, o amor é um sentimento que cega e, ao mesmo tempo, esta cegueira pode ser também destruição do mais sublime dos sentimentos.

É sem dúvida a melhor interpretação de Kristin, que também fez Quatro Casamentos e Um Funeral, de 1994 e Lua de Fel, de 1992, entre outros. Em todas as tomadas, consegue passar-nos segurança e está bem no papel de uma inglesa aristocrática. Na tela, mostrou ser uma amante decidida que vive a paixão intensamente. Um filme que me leva a questionamentos e duvidas. Os desejos devem ser vividos? Mesmo quando proibidos?

Trailer:

 

WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
Imprimir
Picture of Walter Filho

Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

Deixe um comentário