A aldeia estava em chamas. Aí, os gritos começaram e foram piorando. Se todas saíssem correndo…não poderíamos deixá-las escapar. Não poderíamos. Eramos responsáveis por elas.
(Hanna no Tribunal.)
Esta obra cinematográfica não fala somente dos fatos ocorridos durante a II Guerra Mundial; mas, sobremaneira, relata os sentimentos e as feridas geradas no povo alemão depois dos conflitos bélicos. Os principais protagonistas: Michael Berg (David Kross /Ralph Fiennes) e a ex-guarda Hanna Schmitz (Kate Winslet – Pecados Íntimos, de 2006) são vítimas destas dores.
Não sei quantos judeus (e não judeus) foram exterminados – acho que ninguém pode precisar este quantitativo.
A falta de exatidão dos números não vai apagar o rio de sangue deixado pelos nazistas. Se alguém é morto em nome de um ideal superior, já é o bastante para revelar o regime de ódio que se deseja implantar em uma nação.O diretor Stephen Daldry teve seu trabalho fundamentado no livro de Bernhard Schlink – que tem o mesmo título. A história, narrada em flashbacks, conta a trajetória do garoto Berg (David Kross) que se apaixona por uma estranha alemã – fruto de um encontro casual – chamada Hanna Schmitz.
A surpresa de Berg é tão grande que ele parece não acreditar nos desdobramentos seguintes ao primeiro encontro, especialmente quando ela fica nua na frente dele e o sexo flui de maneira natural, sem as cobranças que atormentam relacionamentos amorosos. É tudo o que imaginamos e desejamos na juventude: uma bela mulher e um lugar para nos deleitarmos nas paixões inesquecíveis.
A mulher é vinte anos mais velha e logo assume o “comando” da situação. Ela se entrega sem limites a um adolescente inexperiente. Um detalhe chama a atenção: Hanna pede que ele leia livros para ela nos momentos em que estão juntos. Até esta parte só sabemos que ela trabalha no bonde e mora no terceiro andar de um prédio da Bahnhofstrasse. Os encontros vão se tornando mais frequentes e a paixão do garoto vai aumentando a cada dia. Ele perde aulas e corre para o pequeno apartamento, onde os desejos sexuais se misturam com as palavras lidas – ponto obrigatório para o aluno relapso. Sem aviso, Hanna desaparece, deixando o jovem confuso.
Tempos depois, Michael Berg está cursando direito e depara um julgamento de ex-colaboradoras do regime nazista que trabalharam em campos de prisioneiras. O estudo era parte das aulas do professor Rohl (Bruno Ganz – Nosferatu – O Vampiro da Noite, de 1979) e, para espanto do jovem acadêmico, uma das acusadas é Hanna Schmitz. Um choque com uma realidade cruel e que ele jamais imaginara.
Durante o processo, Berg se mantém distante em relação à acusada, mesmo depois do marcante envolvimento nos tempos de adolescente – envolvimento este que deixou marcas indeléveis na memória do estudante. Ele nada fez para ajudá-la no deslinde judicial – carregava dentro de si o sentimento de culpa dos alemães em face das atrocidades perpetradas pela “máquina” de Hitler.
A decisão final do júri é pela condenação de Hanna. É bom frisar que a ex-guarda foi condenada não por defender os ideais do III Reich – ela não tinha formação intelectual para compreender o projeto político que o regime disseminava, mas por ter confessado friamente a prática de atos que resultaram na morte das prisioneiras que estavam sob seus cuidados.
O tempo avança e Berg (Ralph Fiennes – A Duquesa, de 2008) agora é um homem adulto e solitário. Ao visitar a ex-amante na prisão, ele tenta abrandar o sofrimento da presidiária e, ao mesmo tempo, se penitenciar diante de sua atitude no decorrer do julgamento, enviando fitas gravadas para o presídio contendo textos literários – uma volta ao passado sem os abraços de Hanna. O Leitor foi o último trabalho (produção) de dois grandes cineastas – Anthony Minghella (O Paciente Inglês, de 1996) e Sydney Pollack (Três Dias do Condor, de 1975) – que faleceram antes do término e não puderam desfrutar do sucesso deste filme. Uma pena!
Trailer: