Não é algo místico quando digo que eu não aguento mais. O que eu não aguento mais é não poder me defender.
(URIKE MEINHOF – na prisão onde morreu)
Sem alterar os fatos, o diretor Uli Edel revelou a trajetória de um dos grupos terroristas mais badalados do final dos anos 1960 e início da década de 1970 que atuou na então Alemanha Ocidental – o famoso Baader Meinhof. A obra é baseada no livro homônimo “Der Baader Meinhof Komplex”, do jornalista Stefan Aust, publicado em 1985.
O nome do grupo nasceu de uma fusão dos nomes de Andreas Baader e Urike Meinhof, as principais personagens de um tempo marcado por violências e utopias que puseram fim à vida de pessoas inocentes e outras culpadas de atrocidades – que deveriam ter sido julgadas dentro do devido processo legal e não assassinadas por puro deleite de estrábicos ideólogos.
Durante os acontecimentos, o mundo ainda amargava vivamente as consequências da II Guerra Mundial. As feridas ainda não tinham sido saradas e dificilmente serão. O borrão de sangue deixado por Adolfo Hitler é uma mancha indelével, sobretudo, para o povo alemão e os que foram perversamente perseguidos. Na América Latina governavam os ditadores. Na África, imperava a exploração da miséria que, infelizmente, ainda persiste. Regimes fascistas dominavam vários países da Europa. A URSS sufocava as liberdades civis no leste europeu. Eram tempos difíceis – hoje, a vida também não é fácil e não adianta apenas rezar para as coisas mudarem.
Urike Meinhof (Martina Gedeck – em marcante interpretação) era jornalista e mãe de duas filhas pequenas. Gostava da profissão e manifestava publicamente sua opinião contra a violência policial imposta a estudantes alemães durante os protestos de rua. Adorava estar com a família até o dia em que flagrou o marido transando com uma amiga. Aí foi o começo do fim. Ante a situação vexatória, ela saiu de casa. A cena da traição é rápida, mas revela o entusiasmo do pai de suas filhas.
Ao visitar uma conferência política, começou a se interessar pela luta da esquerda extremista. Em sua nova caminhada, Urike conheceu os integrantes do movimento RAF (Facção do Exército Vermelho) Andreas Baader (Moritz Bleibtreu) e sua namorada Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek) – uma jovem decidida. No primeiro encontro com Urike ela diz: “..sua masturbação teórica vai mudar alguma coisa?” Já o extremista Andreas Baader não passava de um aventureiro que não tinha limites para matar. Praticava atos selvagens em nome de um ideário que não sabia nem o que significava. Um sujeito esnobe.
Na verdade, usou a fracassada doutrina marxista para tentar justificar seus atos de barbárie. Oficialmente o bando armado foi responsável por vários assassinatos – além de roubos a bancos, incêndios e sequestros.
A notoriedade do grupo foi conquistada por meio de ações violentíssimas e, sobremaneira, pelos manifestos escritos por Urike Meinhof. Ela era a responsável pela ideologia da organização e seus artigos difundiam nas cabeças de jovens românticos a ideia de que tudo tinha como finalidade destruir o “capital” e a nação imperialista dos Estados Unidos.
A diferença de pensamento e a discordância no planejamento das ações terroristas entre Andreas e Urike foi o ponto nevrálgico da organização terrorista. Os principais líderes do movimento foram presos no ano de 1972. No encalço dos assassinos estava o chefe de polícia Host Herald (Bruno Ganz – A Queda – As Últimas Horas de Hitler, de 2004) – um excelente ator, mesmo em um papel secundário.
As divergências internas e as agruras da prisão levaram Urike Meinhof ao desespero e, encurralada pelos próprios companheiros, praticou suicídio em 1976, quando tinha 41 anos de idade. No ano seguinte, foi a vez de Andreas Baader e Gudrun tomarem o mesmo rumo, pois resolveram se matar para os seguidores acreditarem que foram vítimas de assassinato e, assim, se eternizarem como mártires libertários.
O Grupo Baader Meinhof mereceu os prêmios recebidos. É um trabalho que mostra os fatos com esmero e competência, ademais, desnuda na grande tela uma história mal contada por outros camaradas, remontando com responsabilidade a verdade real e, ao mesmo tempo, nos mostrando que eles nunca foram o que publicamente pregavam.