Este filme é baseado em um conto da escritora Patricia Highsmith – que primeiramente foi adaptado em O Sol Por Testemunha, de 1959, dirigido por René Clément. Depois foi rodado O Talentoso Ripley, no ano de 1999, que também é baseado no célebre romance homônimo de Highsmith.
A história narra a trajetória de Tom Ripley (Dennis Hopper) e sua amizade com o alemão Jonathan Zimmermann, interpretado por Bruno Ganz (A queda! As Últimas Horas de Hitler, de 2004). O primeiro é um falsário americano – contrabandista de obras de arte. O segundo é um pacato cidadão que trabalha com molduras de quadros em Hamburgo, onde vive com a mulher e um filho pequeno.
O moldureiro sofre de uma doença no sangue e, em um primeiro plano, a mesma parece ser irreversível. Aproveitando-se da situação, o bandido aproxima-se do doente e por meio de amigos mafiosos convence-o a praticar um assassinato. Para conseguirem o intento, os bandidos forjam resultados de exames médicos atestando que o paciente está com os dias contados.
Relutante e vacilante ele comete o crime – mata um homem dentro da estação do metrô. A partir daí começa a viver um drama de consciência e mergulha em um mundo de pesadelos. Ele não tinha estrutura para suportar o submundo do crime, onde impera a traição, os interesses escusos, além de ser um lugar que abriga seres desalmados, que são capazes de tudo para alcançarem seus perversos objetivos.
Há um mundo recriado a partir de dois extremos – um delinqüente americano e um inofensivo germânico – o que diferencia as realizações de Wenders e as remete ao patamar de obras-primas, principalmente, pelo seu estilo poético e inovador. Aparentemente, este ambiente não é plausível, pois foge do convencional. Sucede, porém, que nas mãos do diretor ele é possível e os espaços vazios são preenchidos pelas experiências de um mundo imperfeito.
No decorrer da trama, percebemos que o bandido Ripley começa a sentir afeição pelo alemão e, na última hora, decide livrá-lo da enrascada em que o meteu. Todo o filme retrata a relação de amizade entre os dois, embora não declarada.
Por trás do amigo americano está o gângster Minot (Gérard Blain) que diante do crime cometido por Jonatham pressiona-o a cometer outro assassinato; desta feita seria no interior de um trem para Munique. Dizem que a hesitação para matar alguém só existe no primeiro crime e daí pra frente tudo fica mais fácil. É o que acontece. Novamente, o alemão aceita a empreitada e parte para o cumprimento da missão, mesmo não sendo um profissional.
A mulher de Jonatham começa a desconfiar das ausências do marido e percebe que ele está mentindo. O casal termina por discutir e as agressões são inevitáveis, levando-a a abandonar o lar com o garoto, o que aumenta mais ainda o sofrimento do neófito matador.
Este suspense deu fama internacional ao cineasta Wim Wenders, que anos mais tarde realizou Asas do Desejo, de 1987 – considerado seu melhor filme pelos críticos. Hoje, este notável diretor vem recebendo críticas levianas – segundo os “maldosos” ele passou para o lado do cinema de Hollywood, esquecendo suas origens e perdendo o rumo de seu trabalho outrora ovacionado, o que não é verdade.
Vale frisar que em O Amigo Americano a lei e a justiça não aparecem para punir os criminosos e tudo fica para o julgamento de cada espectador. A dor e o desespero podem nos levar a caminhos de espinhos e que, dificilmente, sairemos ilesos. Não deixe de assistir.