Minha cultura é pouca e não creio que seja capaz de compreender o mundo e discutir coisas assim como a vida e a morte. Pego só algumas formas visíveis, faço um filme, não sei como explicá-lo. Não sei como falar dele.
(Alain Resnais)
O ano de 2007 não foi daqueles que lembraremos como bom em termos de obras cinematográficas. Cada vez mais a visão apenas do entretenimento domina as produções da Sétima Arte e, dificilmente, os atuais filmes despertam a imaginação e deixam saudades quando acabam – por vezes olho para o relógio. É uma época de trabalhos fracos. Vamos torcer para que Almodóvar, Allen, Bertolucci, Scorsese e outros talentosos diretores não parem de trabalhar. O título acima é meio intrigante e confuso, sobretudo, quando nos aproximamos da sala escura para assistir a este belo filme de Alain Resnais – cineasta francês que dirigiu filmes marcantes, dentre os quais, destaco: O Ano Passado em Marienbad, de 1960 e Amores Parisienses, de 1997.
A história se passa em uma Paris sitiada pelo rigoroso inverno e mostra a vida, ou melhor, o drama pessoal de cada um dos seis personagens envolvidos diretamente na trama, além de um velho enfermo que não é mostrado por inteiro – ficaram na memória seus gritos de desespero e angústia. O que mais impressiona é a maneira como Resnais narra os fatos, por ser uma formalista ele monta todas as cenas com precisão e rigor, não despreza os detalhes, pelo contrário, usa-os para entrelaçar todos os protagonistas. Neste trabalho que fala de dramas interiores o diretor escondeu o passado de seus personagens e não sabemos como foram suas vidas antes dos encontros naqueles dias gelados. Pela maneira como são apresentados, sentimos que suas vidas foram marcadas por extrema solidão, além do medo de revelarem suas verdadeiras vontades e fantasias.
Há um corretor, Thierry (André Dussollier) que deseja a colega Charlotte (Sabine Azéma) e não tem coragem de revelar seu sentimento. A companheira de sala é uma crente disfarçada ou tenta nos passar esta face. O casal Dan (Lambert Wilson) e Nicole (Laura Morante) vive na expectativa de algo novo na já cansada relação conjugal – a mesmice que destrói tantos relacionamentos e o pior é ouvir: um dia vai melhorar! Quando? Talvez nunca.
O drama envolve, ainda, Lionel (Pierre Arditi) que além de trabalhar como barman, tem de cuidar do trabalhoso pai que vive prostrado em uma cama. Em cena também a jovem Gaëlle (Isabelle Carré) que é irmã de Thierry. Todos são solitários e nada lhes é reservado de bom durante o transcorrer do filme. Não há esperança para eles. O medo devorou suas almas e permanecem devastados pela melancolia de suas vidas. Nem a jovem Gaëlle sabe o que busca – mente para si mesma e para seu irmão. Nenhum deles é capaz de tomar uma atitude radical e mudar efetivamente o tormento lento e gradual que os destroça.É melhor o silêncio, ou seja, esconder dentro de si e mentir para todos. O diretor nos mostra a vergonha pública diante de desejos reprimidos.
Medos Privados… é um retrato fiel de almas parisienses – como acontece nos mais diversos lugares do mundo – em seus solitários caminhos; que, infelizmente, terminam como começaram. É preciso admitir que para muitos a vida é uma droga mesmo.
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