Lua de Fel (1992)


Lá estava ela deitada, maravilhosa, voluptuosa. E nada significava para mim. (Oscar narrando seu sofrimento)


Uma mulher bonita desperta o interesse dos homens. É difícil não se dobrar diante de uma de uma beldade como Mimi – mesmo o perigo sendo aparente. O perigo pode aumentar muito, muito mesmo, quando se é advertido pelo próprio marido da pretendida.

É nesse clima de desejo e suspense, que se inicia a história de dois casais que se encontram por acaso a bordo de um cruzeiro rumo a Istambul. Nigel Dobson (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas, O Paciente Inglês, de 1996) estão comemorando sete anos de casados e nada melhor do que a quebra da rotina – eles estão na chamada “crise dos sete”. Era preciso buscar algo para fazer florescer novamente o amor.

O marido da bela  é o pretenso escritor Oscar Benton (Peter Coyote), um homem que se apaixonou no primeiro olhar e se entregou de corpo e alma no romance com Mimi (Emmanuelle Seigner). Unir sua maturidade a juventude da estonteante jovem, assim, ele imaginou estar no paraíso. Como todo começo, o fogo interior supera a razão e tudo parece eterno.

O diretor Roman Polanski ( O Escritor Fantasma, de 2010) desenvolve a trama em flashbacks e mostra um homem numa aparente felicidade. Diante da beleza da jovem ele cede aos seus caprichos. A cena em que ela pede para fazer sua barba é um prenúncio de maus agouros, quando lambe o sangue de sua face.

Oscar revela  tudo a Nigel na cabine, na noite em que se conhecem. Os detalhes sexuais do casal são expostos sem censura, o que desperta a curiosidade do ouvinte e, ao mesmo tempo, deixa-o meio atordoado. O ardor da paixão é revelado quando ele diz: Éramos inseparáveis de dia e insaciáveis à noite. 

Mas, na narrativa do dia seguinte, Nigel percebe o aspecto doentio da relação de Oscar, quando este fala que sentiu prazer ao receber a urina da amada no rosto – uma masoquista que desmantela um apaixonado. Mesmo diante das agudas revelações, Nigel Dobson não é forte o suficiente para se afastar do mal, pois no fundo deseja a enigmática mulher – seu grande erro, que lhe custará uma vergonha pública. 

A saturação do relacionamento era uma questão de tempo. Ele tenta humilhar a jovem para ficar livre; as conversas ficam tensas, chegam a trocar agressões verbais e físicas. Durante o rompimento do namoro, ele sofre um acidente – aí foi o começo da descida ao inferno. De insaciável amante passou a mero espectador da beleza dela. Chegou à condição de escravo no perigoso jogo da atração. Ela revelou seu rosto cruel, submetendo-o a um sofrimento atroz.

Um plano maquiavélico, no entanto, é arquitetado pelo aspirante a escritor. Aproveitando-se da situação criada no navio, coloca em prática sua abjeta vingança; e o insosso casal Nigel e Fiona (só é carta no jogo já no final, mas encanta) é usado para perpetração de uma tragédia desde cedo anunciada.

Lua de Fel é um filme permeado pela cortante e belíssima trilha sonora de Vangelis  (Blade Runner e Conquest of Paradise) e, ao mesmo tempo, é o anuncio sem restrições dos dissabores de relações motivadas tão somente pelos desejos carnais, pelos impulsos das paixões misturadas com as fraquezas dos homens, entretanto, diante de Mimi não é fácil resistir.



WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
Imprimir
Picture of Walter Filho

Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

Deixe um comentário