Lawrence da Arábia (1962)

Estávamos lançando-os ao fogo, aos milhares, para a pior das mortes, não para vencer a guerra, apenas para podermos ficar com o trigo, o arroz e o petróleo da Mesopotâmia.
(T.E Lawrence na vida real)

Filme que lançou e consagrou Peter O`Toole (Calígula, de 1982) que, como Malcolm McDowell em Laranja Mecânica, também nunca mais foi o mesmo depois desta marcante e inesquecível atuação, quando interpretou T. E. Lawrence – lendário oficial inglês que teve decisiva participação na unificação dos árabes no conflito contra os turcos durante a 1ª Guerra Mundial. Os líderes das tribos do deserto são representados pelos atores Omar Sharif (Doutor Jivago, de 1965) no papel de Sherif Ali, Antony Quenn (Zorba, O Grego, de 1964) como Auba abu Tayi e Alec Guiness, interpretando o Príncipe Feisal.

Na sua trajetória, Lawrence se alia aos líderes e convence-os a segui-lo na travessia quase louca pelo tórrido território e, para isto, usa a lógica e o diálogo como arma, passando a ser respeitado pelos rudes comandantes. Seus argumentos estavam corretos e, assim, foi possível alcançarem vitórias memoráveis nas batalhas.

As locações no deserto mostram sua imensidão e sua insolência cruel, onde homens se matam em busca ou para protegerem suas fontes de água. Nesta disputa, uma cena marcante: um ponto pequeno na aridez vai crescendo, crescendo, e, aos poucos, a tela nos mostra a figura de um homem galopando – Omar Sharif está soberbo na cena – que vem em defesa de seu precioso líquido, uma vez que percebe a presença de um estranho, que no caso é Lawrence saciando sua sede.

As paisagens desérticas, sufocantes, de homens caminhando ou a galope em seus animais, deixam-nos à espera para sabermos até onde vão chegar. Há uma atmosfera de extrema secura que só é suavizada com o cair da noite. David Lean teve de enfrentar meses de tempestades de areia para capturar as imagens perfeitas daquela hostil e intrigante terra e, então, projetá-las e eternizá-las na magia do cinema.

Lawrence é um homem magro, meio desajeitado – em algumas cenas parece meio afeminado, principalmente quando ele fica em cima do trem turco comemorando a vitória vestido com uma esvoaçante túnica branca. Não é o tipo do herói convencional que outros filmes espelham – o que levou alguns críticos a não acreditarem no trabalho de David Lean, diretor de outras películas memoráveis, dentre elas, A Ponte do Rio Kwai, de 1957. O tempo mostrou o erro de avaliação e o quão monumental é esta imperdível obra cinematográfica.

O rosto de O`Toole é sempre mostrado em um plano que nos agrada e parece estar em dois mundos, no imaginário da obra e na realidade do homem, que sugere ao espectador a ideia de que é vigiado e permanentemente observado em seus estereótipos, o que ele revela gostar.

O protagonista do filme é uma contraposição à arrogante aristocracia inglesa e, ao mesmo tempo, um rebelde na visão dos militares de seu país, pois se identifica mais com a selvageria dos povos denominados “bárbaros” do que com seus próprios colegas de corporação.

O diferencial do épico é retratado em sua filmografia, que não projetou cenas de violência banalizada, rios de sangue para impressionar e sim a resplandecência de um simples oficial desprovido do exagerado patriotismo, que foge da mesmice dos infalíveis militares retratados em tantas intragáveis fitas.

Lawrence da Arábia é uma ode ao cinema de qualidade, um clássico insuperável no gênero. Um filme que não se apaga de nossas memórias.

WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
Imprimir
Picture of Walter Filho

Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

Deixe um comentário