Sei o quanto a nação alemã ama seu Führer. Ele é um bom sujeito. Gostaria de beber à saúde dele!
(STALIN – após firmar o pacto maldito, segundo o historiador Simon Montefiore)
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, os “camaradas” russos, liderados pelo célebre Stalin, firmaram uma aliança com o genocida Adolfo Hitler, líder do III Reich, regime ditatorial que imperou na Alemanha de 1933 até 1945. Este pacto foi chamado de Molotov-Ribbentrop, cujo objetivo foi a divisão do Estado soberano da Polônia.
No ano de 1939, os nazistas e o exército soviético invadiram o Território polonês e praticaram as mais inomináveis crueldades contra um povo que estava sem defesa. Foi nesta época que o então jovem Andrzej Wajda – diretor desta película – foi, na vida real, separado de seu pai Jakub Wajda, um oficial da armada polonesa que desapareceu pouco depois de ser levado pelos russos.
Inspirado em fatos, o filme retrata um dos mais perversos crimes de guerra ocorridos durante o conflito – os assassinatos de oficias polacos levados para a floresta de Katyn, em plena área soviética, e covardemente eliminados com tiros disparados a sangue frio.
Durante muitos anos, os bolcheviques espalharam uma propaganda mentirosa, atribuindo este massacre aos alemães, sobretudo, quando o pacto foi quebrado no início da guerra. Muitos cidadãos da Polônia foram forçados a aceitar esta versão e apoiaram o regime comunista implantado no País pela antiga URSS. Por medo, e praticamente sem saída, a maioria do povo ficou em silêncio. Só no ano de 1989, Mikhail Gorbachov reconheceu a responsabilidade da nação russa pelo massacre.
O trabalho de Wajda tem imagens chocantes e enfoca os fatos com realismo, não faz de sua obra uma peça panfletária e, muito menos, conduz o filme com o viés da vingança. Deve ter sido triste para o cineasta realizar este drama, sabendo que seu pai foi uma das vítimas assassinadas. A vida é assim: abençoa ou nos penitencia. Fica dificil demais entender o silêncio de Deus neste mundo de horror.
Os principais protagonistas são: O Coronel Andrzej (Artur Zmijewski), que documentou em seu pequeno diário toda a trajetória de sua prisão até a morte pela polícia secreta do esquadrão vermelho; o oficial tenente Jerzy (Andrzej Chyra) e Anna (Maja Ostaszewska) – mulher de Andrzej que, no início, não acredita na morte de seu marido, mas, após a descoberta dos corpos enterrados em uma cova comum no interior da floresta e o recebimento do diário, perde as esperanças da volta de seu amado.
O cineasta Andrzej Wajda (Cinzas e Diamante, de 1958) recebeu críticas por ter conduzido o filme de maneira lenta – um pouco arrastado – e por ter explorado um tema já tão batido. De fato, a obra não foge muito ao estilo de outras sobre dramas de guerra e, claro, usa o tom pastel para recriar o ambiente da época. Neste tipo de produção, no entanto, que tem como rumo os fatos, não se pode inventar para agradar os sensacionalistas. Criar heróis dentro do contexto é reescrever os fatos distorcidos, portanto, não comungo com a ideia de que o filme não traz nada de novo. O novo está, sobretudo, na verdade histórica realçada nas imagens de maneira séria e corajosa. Realizado em 2007, só chegou ao Brasil dois anos depois.
A floresta de Katyn na Rússia é maldita – 70 anos depois da chacina, o avião conduzindo o presidente polonês Lech Kaczynski caiu no mesmo local. Todos os membros da comitiva morreram. Será o destino? Será mero acaso? Não sei responder o que é isso.
Katyn não é uma embalagem comercial, não é uma enganação permeada pelos romances furtivos, não é uma propaganda que busca fazer frente aos putrefatos regimes totalitários da Rússia comunista e do ex-nazismo alemão. É, antes de tudo, um relato fiel de uma história verdadeira que foi muito mal contada em um passado próximo e, infleizmente, disseminada mundo afora por pessoas estrábicas. Sem máscara!