Este filme é um retrato fiel da vida de muitas pessoas, que por seus relatos vivem ou viveram experiências similares. Não adianta fugir da cruel realidade que aí está. A solidão tem levado seres humanos a praticarem os mais absurdos e inimagináveis atos para o preenchimento do vazio interior. As cidades estão abarrotadas e os indivíduos são meros espectadores de uma vida que passa e, mesmo próximos, colocam entre si uma barreira intransponível. É a mulher que deseja sexo, mas não tem coragem de aproximar-se do sujeito interessante – ele pode não ter o nível dela; as condições sociais são diferentes. É o homem que tem medo do acasalamento.
Diante dos impasses e freios sociais impostos, preferem formas mecânicas e bizarras para a satisfação dos desejos, desprezando muitas vezes relações que podem ser construídas e vividas na sua plenitude. Trata-se de um drama dilacerante e, ao mesmo tempo, leva o espectador desavisado a sorrir, principalmente, na cena de masturbação do gordo Allen (Philip Seymour Hoffman) – numa atuação maravilhosa, bem como no final com o garoto Timmy (Justin Elvin).
O diretor Todd Solondz (Bem-Vindo à Casa de Bonecas, de 1995) foi extremamente corajoso ao mostrar o cotidiano dos insanos personagens: a gorda e feia que é uma assassina capaz de cortar os pedaços do asqueroso porteiro e sair jogando-os na rua em saquinhos de supermercado; a infeliz escritora que lamenta não ter sido estuprada para melhor desenvolver seus trabalhos literários; um pai pedófilo que fala de sexo com o filho pequeno e vive um casamento de aparências – sem falar que é um respeitável psiquiatra. Há também um casal de meia-idade em fase de separação – ele não suporta mais a mulher depois de quarenta anos juntos. Suas três filhas aparentemente não são felizes. Uma delas é Joy (Jane Adams) uma solitária que não sustenta um relacionamento – a irmã Helen (Lara Flynn Boyle – que é a escritora) está sempre tentando consolá-la e, no fundo, também não é realizada. Já a mais “normal” Trish (Cynthia Stevenson) casada com o pedófilo Bill Maplewood (Dylan Baker) é uma insossa dona de casa que nada percebe.
Os personagens entrelaçam-se em suas trajetórias de sofrimentos. Alguns são sórdidos e perversos. A busca da felicidade vai sempre continuar, pois a felicidade parece estar sempre na espera de que ela aconteça, de que um dia chegue e complete o que somos: humanos demasiadamente humanos. É um filme feito para quem tem coragem de assisti-lo com os olhos da realidade e não para hipócritas, que vivem pregando uma falsa ordem e negando a si mesmo o sagrado direito da realização dos desejos inatos ao ser humano.
Algumas pessoas seriam bem menos amargas se vivessem relações sexuais mais intensas e mais prazerosas. É um trabalho impactante e ousado, uma vez que não há concessões para agradar conservadores e, tampouco, suavizar para ser considerado politicamente correto. O que é mostrado é real sim. Sabemos que tudo está acontecendo neste exato momento – garotos estão sendo violentados, pessoas estão desiludidas e outras vivem trancadas em seus castelos criando monstros imaginários e se autodestruindo.
Felicidade é um escarro merecido no rosto da perversa sociedade que vivemos, pois o dissabor da angustiante vida dos rejeitados não deve servir de regozijo para ninguém. Infelizmente, muitos deliciam-se nas desgraças alheias, com seus risos de hienas. Nauseante? Sim, porém, verdadeiro. É um “gosto de fel” que deve ser provado. Assista-o!