Só existe um punhado de filmes de escravidão de verdade. Para mim, esse filme é um western, só que passado no Sul Profundo.
(Quentin Tarantino)
O amante do cinema Quentin Tarantino nos presenteia com um filme que não foge ao seu estilo, já por demais conhecido. Recheado com muita ação, adrenalina, violência estilizada e diálogos espertíssimos num roteiro original; eis que ele projeta na grande tela Django Livre – um western spaghetti feito nos EUA.
É, sem dúvida, uma forma de homenagem ao inesquecível Sergio Leone, que lá atrás nos brindou com o memorável Era Uma Vez no Oeste, e a tantos outros catedráticos do faroeste. Assim como o mestre, Tarantino recorre a canções marcantes, usando na abertura o tema do filme inédito Django, de 1966, de Sergio Corbucci e estrelado por Franco Nero – em rápida aparição nesta versão.
A história se passa em 1858, quando os Estados Unidos estão às vésperas de uma Guerra Civil. O escravo liberto Django (Jamie Foxx), acompanha o caçador de recompensas Dr. Schultz (Christoph Waltz) em terras texanas e vão até o sul do Mississipi. A jornada tem como fim encontrar a esposa do ex-escravo, Broomhilda, interpretada pela atriz (Kerry Washington) e alguns proscritos da lei.
A jovem Broomhilda é propriedade do cruel fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), que se diverte vendo os “mandigos” escravos lutarem até a morte. Ele representa o arrogante e sádico senhor de escravos, espécie de gente ainda hoje existente, mas de uma forma disfarçada.
No plano criado pelos dois para o resgate e apreensão dos procurados, a dupla não contava com o terrível e perspicaz chefe dos escravos, o servo Stephen, num desempenho arrepiante de Samuel L. Jackson – a maneira como bajula Candie é nojenta.
As técnicas de zoom tão utilizados nos clássicos, e as imagens de contemplação, quer seja a terra batida, as montanhas geladas ou o pôr do sol; tudo é amarrado à trilha sonora, que faz a diferença em películas do gênero. O diretor vai de Delta Blues a Soul e passa pelo Hip-Hop, que são os estilos formadores da cultura negra americana.
Destaque para cena mais divertida e inusitada da filmografia do diretor. Isto ocorre quando um grupo de brancos discute se devem ou não usar sacos na cabeça com furos nos olhos para um ataque surpresa. São vingadores com tochas nas mãos. Um agouro do que seria a terrível Ku Klux Klan – na verdade, esta organização de homens brancos foi fundada pelo general Nathan Bedford Forrest da cidade de Pulaski,Tennessee, no ano de 1865, sete anos depois da história do filme, cujo objetivo era impedir a integração social de negros recém-libertados.
Django Livre é nostálgico, desperta nossas lembranças, nos faz regressar no tempo, nos impulsiona para momentos outrora felizes – a era da juventude na sala escura. Um belo e sangrento (sutileza não é o chão do diretor) resgate de um modelo tão imêmore no cinema atual. Imperdível, quer você ame ou odeie Tarantino.