Então, minha irmã e Robbie nunca conseguiram ter a vida que tanto sonharam e mereciam..A vida que, desde então eu os impedi de ter.
(Briony Talles – falando de seu livro)
Um filme que não vou esquecer. Baseado no livro de Ian McEwan, este drama de época conta o quanto é perigosa uma injusta acusação – seus desdobramentos podem ser irreparáveis.
Uma adolescente perspicaz sustenta uma acusação que vai mudar para sempre as vidas de três pessoas: da irmã mais velha Cecilia (Keira Knightley), do pretendente desta, o jovem Robbie Turner (James McAvoy – O Último Rei da Escócia, de 2006) – e, sobretudo, sua própria vida.
A garota é Briony Talles (Romana Garai), então com 13 anos, que vive com a família aristocrática na Inglaterra, durante os anos da década de 1930 – mesmo muito nova ela já demonstrava um talento para escrever livros e peças. Na época, muitas incertezas rodeavam os ingleses, bem como o povo europeu. Os conflitos da 2ª Guerra Mundial estavam se aproximando. O arsenal bélico de Hitler estava sendo preparado nos bastidores para os primeiros ataques.
Durante as andanças pela mansão, a garota Briony flagra sua irmã Cecilia Talles com Robbie numa cena de amor. Levada pelo desejo que nutria pelo rapaz, e, aproveitando-se de uma violência sexual acontecida contra uma parenta que estava hospedada na casa, Briony acusa Robbie Turner de ser o autor do crime. Na sua imaginação, essa era uma oportunidade única de separá-lo de sua irmã Cecilia, o que de fato aconteceu. Robbie era filho da empregada e não foi difícil para a polícia levá-lo para a prisão.
A partir daí, o filme começa a mostrar a trajetória dolorosa das três personagens envolvidas. Diante da situação e sem defesa, Robbie aceitou ir para a guerra no front francês para não ficar na cadeia. Cecília se tornou enfermeira e foi trabalhar em um hospital na cidade de Londres. A pequena acusadora, na medida em que o tempo avançou, percebeu o terrível erro que cometeu. Como reparar este erro? Impossível! Será?
É aí que o trabalho de Joe Wright (Orgulho e Preconceito, de 2005) se diferencia da maioria de outros no mesmo viés, pois sabemos que este tipo de drama de guerra tende a explorar o amor durante as batalhas – uma forma de suavizar o horror entre as pessoas vitimadas pela guerra.
A contraposição do filme está exatamente na suavização e no final feliz que o espectador enxerga projetado na grande tela – Cecília e Robbie sobreviveram aos ataques alemães. O conflito acabou e eles estão felizes num lugar paradisíaco, onde o som das ondas do mar os envolve e torna o ambiente o local perfeito para viverem o amor da forma mais profunda possível. Isso, porém, não é verdade. Somente vamos perceber o real término, dentro da história, com a participação da atriz Vanessa Redgrave (Desejo Proibido, de 2000) – vivendo Briony numa fase já madura. Ela sobreviveu à guerra e agora é uma escritora de sucesso.
Quando Briony Talles vai a um programa televisivo falar de seu ultimo romance – DESEJO E REPARAÇÃO – o espectador sente um frio na espinha. Em sua entrevista, ela narra como foi possível, dentro da ficção, encontrar uma forma de reparar o erro cometido na adolescência, quando situa as personagens de seu livro – Cecilia e Robbie, que na verdade morreram durante os combates, juntos na bela praia retratada na cena imaginária da autora do livro.
Briony deve ser perdoada? Entendo que sim. Ela era jovem demais para mensurar as consequências de seu ato, no entanto, a ferida aberta em sua consciência jamais será sarada, carregará para sempre o sentimento de culpa por ter destroçado as vidas de pessoas que ela amava muito.