Você não é muito esperto, não é? Eu gosto disso num homem.
(MATTY para NED)
O estilo noir tem o poder de seduzir o espectador, principalmente, quando temos uma mulher envolvida, ou melhor, uma irresistível e atraente mulher no centro da trama. É o que acontece nesta magistral obra cinematográfica do diretor Lawrence Kasdan.
Foi a estreia da atriz Kathleen Turner no cinema e, sem dúvida, ela teve uma atuação esplendorosa como a amante que quer matar o aparentemente inescrupuloso marido para apoderar-se de sua fortuna. No seu ideal diabólico ela atrai o advogado Ned Racine (William Hurt) – um iludido que acredita na mulher que trai o próprio consorte para executar o maquiavélico plano. Tenho ouvido demais isto: trai o marido mas comigo ela é fiel. Me engana que eu gosto!!!
A obra de Kasdan sofreu forte influência de alguns filmes noir do passado, sobretudo de Pacto de Sangue, de 1944, sob direção de Billy Wilder. Devemos ressaltar, no entanto, que Corpos Ardentes tem algo de mais sedutor – a desenvoltura de Turner, que no filme é a calculista Matty Walker. A sexualidade da protagonista é impressionante, exala fascínio e fica difícil não se dobrar. Infelizmente, o amante vai além da paixão, pois pactua um crime de morte que lhe trará sérias consequências.
Noir é o gênero da noite, que explora a violência, a paixão ilícita, a corrupção, o sentimento de culpa e que abusa de cenas noturnas. O termo vem da França e quer dizer filme preto. Os historiadores atribuem ao crítico francês Nino Frank o pioneirismo da expressão no ano de 1946. Aliás, os melhores filmes desta categoria foram produzidos nas décadas de 1940 e 1950. Entre eles, estão: A Sombra de uma Dúvida, de 1943, dirigido por Hitchcock; Curva do Destino, de 1945 e O Terceiro Homem, de 1949, ambos sob condução de Carol Reed, além do já citado e tantos outros clássicos que influenciaram gerações de cineastas.
O ponto central deste filme é artimanha usada por Matty para convencer Ned a cometer o assassinato, portanto, ela precisava de um comparsa atuante no mundo jurídico e não um idiota qualquer. Foi o que aconteceu. A engenharia do crime foi toda dele. O homem intoxicado por um corpo feminino comete loucuras, crimes, mesmo sendo um letrado. Aqui, o corpo e a alma de uma mulher conduzem o jogo da sedução.
Tudo é registrado numa pequena cidade da Flórida. O começo da sórdida trajetória acontece quando Ned Racine está em uma festa e defronta a figura da loura – vestindo uma roupa branca em contraste com a noite. A partir daí é fácil perceber o domínio que ela vai exercer sobre seu futuro cúmplice. O calor da relação faz arder os corpos logo na primeira cena de sexo entre os dois; desde então, resta claro o que podemos esperar.
Há um papel bem interpretado pelo hoje decadente Mickey Rourke (Coração Satânico, de 1987) – ele é o colaborador do relapso advogado Ned para assuntos criminosos, ou seja, um incendiário profissional. Na qualidade de ator coadjuvante está bem, mas sua participação é pequena.
Enfim, o crime ocorre e não poderia ser diferente. A vida humana no submundo dos criminosos é apenas um detalhe. Além da traição sexual e do assassinato infligido contra o marido Edmund Walker (Richard Crenna) a femme fatale surpreende o espectador pela frieza com que descarta o amante assassino – o pior, ele é alcançado pela lei.
Corpos Ardentes é uma lição que não devemos esquecer, notadamente por invocar valores que jamais devem ser traídos. Ao fim, chegamos a uma conclusão: ao pactuarmos um crime como o retratado na película, sem a menor dúvida, teremos o mesmo destino do infeliz advogado, portanto, resista às tentações.
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