Buena Vista Social Club (1999)

Buena Vista Social Club mostra que nunca é tarde para trazer à tona um potencial, mesmo que adormecido ou subestimado.
(Mirna Silveira Brandão)

Trata-se de um filme documentário sobre a vida de alguns músicos cubanos que estavam esquecidos e sem oportunidade de revelar seus talentos. O diretor alemão Wim Wenders (Paris, Texas, de 1984) deverá ser sempre evidenciado por nos ter ensejado conhecer e ouvir músicos de uma linhagem estelar. Também o guitarrista ianque Ry Cooder pela ideia de fazer o filme após ter gravado um CD musical com o grupo e que foi um enorme sucesso. Buena Vista foi um clube que existiu em Havana, nos anos 1940 e 1950, destruído pelo regime comunista, mas não obteve êxito ao tentar destruir a alma dos artistas e, assim, foi possível a realização deste musical histórico.

Se não fosse este filme, talvez o mundo artístico e aqueles que apreciam a boa música jamais teriam conhecido um cantor sem igual no gênero: Ibrahim Ferrer que após o CD – gravado em 1996 – e este documentário, passou a ser visto mundo afora, saindo do ostracismo cubano em que vivia. Pergunto-me: Como pode um homem tão talentoso suportar tanto tempo de amargura e, mesmo depois de quase cinquenta anos, já sem esperança de mostrar a todos que sabe cantar, dizer que não guarda rancor de nada? Trata-se de um homem cuja alma é grande.

O filme não aborda o tema político de maneira direta, mas sabemos que a ditadura imposta pelo déspota Fidel Castro é responsável por transformar uma ilha tão encantadora em um gueto de favelados, mas  o pior é ver alguns esquerdistas e intelectuais brasileiros defenderem tal regime de exceção, que mata os contrários com um tiro na nuca e em rito sumaríssimo. Uma das vítimas do regime homicida foi Orlando Zapata Tamayo – líder negro  que morreu de fome na prisão. Seu crime foi ser opositor ao regime tirânico de Fidel.

Um dos momentos inesquecíveis é aquele em que Ibrahim e Omara Portuondo cantam a música Silêncio no estúdio e o diretor leva o plano para a apresentação ocorrida em Amsterdã; não dá mesmo para esquecer e as lágrimas da cantora são fruto daquilo que estava preso e adormecido por um longo tempo. É difícil segurar a emoção mesmo para quem matou, dentro de si, a sensibilidade.

Ibrahim Ferrer sobreviveu sendo um sapateiro e, já no crepúsculo de sua existência, consegue sua tão sonhada liberdade e nos brinda; sim,  nos brinda com um canto refinado e que brota de sua alma com uma simplicidade ímpar. Depois do sucesso, Ibrahim disse: Eu só queria viver um pouco mais. Viveu oito anos. Conheceu a cosmopolita Nova York e ficou encantado. Cantou no famosíssimo Carnegie Hall. Buena Vista Social Club revela que nunca é tarde para reaver os verdadeiros valores da vida. Assim, reverencio tudo que é o fascinante, heroico e inesquecível trabalho de Wenders e Ry Cooder. Alguns músicos já estão mortos, dentre os quais, os destacados Ibrahim Ferrer e Compay Segundo . Parabéns a todos eles. Um filme para silenciar os incautos, um grito de alerta pelas liberdades civis.

Trailer:

 

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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