Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas (1967)

Tudo que você precisa para um filme é uma arma e uma garota.
(Jean-Luc Godard)

Alguns filmes nos custaram certos sacrifícios para vê-los. Hoje, o DVD é uma ferramenta de fácil manuseio e a televisão por assinatura faz reprises de obras maravilhosas. É óbvio que o cinema perdeu o brilho de outrora, sobretudo, com o fechamento de muitos prédios em diversos lugares do País – assistir a projeções em “salas escuras” é caro demais.

Um filme deve marcá-lo pelo que representa para o espectador e não pela visão de alguns críticos, pois muitos são frustrados, e ficam soltando seus venenos contra trabalhos memoráveis. Eis um exemplo. Na época em que Bonnie e Clyde foi lançado, os críticos o arrasaram, sendo então retirado do mercado pouco depois da estreia em agosto de 1967.

Quando os “críticos infalíveis” e os chamados “intelectuais” falam mal de um filme eu vou vê-lo imediatamente. Obras magníficas como Blade Runner, Rastros de Ódio e o imperdível A Face Oculta foram trucidadas pela crítica, e a simples passagem do tempo demonstrou o quão estavam errados os precipitados.

Mais de quarenta anos depois de seu lançamento nos EUA, a película de Arthur Penn  não se apaga de nossas lembranças, principalmente porque retrata o amor impossível entre dois proscritos. Clyde Barrow (Warren Beatty) é um bandido que envolve Bonnie Parker (Faye Dunaway), uma mulher sem perspectiva e que vive entediada em uma cidadezinha do meio oeste dos EUA. A dupla começa uma vida à margem da lei e  rapidamente alcança a fama.

As cenas de violência são suavizadas pelo fundo musical, pois, mesmo repulsivas trazem uma áurea de atração dentro do contexto da obra. O diretor não banalizou a violência, pelo contrário, retratou com elegância estética. Há momentos divertidos durante o rastro de crimes dos fugitivos, o que talvez leve o espectador a não odiá-los e torcer por um final feliz. Os crimes, porém,  não podiam ficar na impunidade.

Vidas foram destroçadas pelo fogo das armas dos celerados, que mesmo aparentando certa dose de inocência, não hesitaram em matar.

Bonnie e Clyde existiram e viveram suas aventuras criminosas durante a Grande Depressão  dos anos 1930. As proezas do casal foram contadas em livros e canções, além da tradição oral entre as pessoas que viveram naquela época. A balada foi disseminada, sendo o cinema o maior responsável pela sua consagração;  a sétima arte os tornou famosos.

O elenco foi completado pelo então novato Gene Hackman – Operação França, de 1971 – e os desconhecidos Michael J. Pollard e Estelle Parsons – premiada com o Oscar de melhor atriz coadjuvante. O filme concorreu a dez estatuetas, ganhou duas – a já mencionada e de melhor fotografia (Burnett Guffey)

Dizem que Warren Beatty – Reds, de 1981 – implorou muito ao chefão Jack Warner da Bros para fazer este filme. A sua insistência em fazer um papel violento e com problemas sexuais foi malvista; uma faceta não aceita pelos adoradores dos ídolos másculos dos anos 1960 – Beatty era um deles. Sua coragem rendeu um filme que não nos abandona.

Bonnie e Clyde foi impiedosamente massacrado pelos críticos, como sendo um filme de assassinatos brutais e mera violência, o que não era verdade, mesmo terminando  banhado pelo sangue de amantes numa tempestade de balas.

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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