Que filme espetacular! E achamos mais espetacular – e intrigante – a cada vez que o repetimos! Se eu só pudesse escolher um único filme para exibir e debater, eu escolheria Blade Runner.
(Theresa Catharina de G. Campos – professora em Brasília)
Filme que solidificou o trabalho de Ridley Scott (Gladiador, de 2000). Anteriormente ele fez uma revolução no mundo da ficção, quando dirigiu Alien, o Oitavo Passageiro, de 1979. Ambientado em futuro próximo, com becos escuros, luzes de néon e grandes painéis de publicidade, este longa-metragem é uma ficção científica, plausível, sem os exageros dos efeitos especiais que predominam em muitos filmes deste gênero. É espetacular, um mergulho na alma humana, cinema em toda sua magnitude e beleza.
A humanidade evolui cientificamente, mas a opressão continua, ou seja, os menos favorecidos serão sempre a escória, fadados ao submundo do Estado. Numa flagrante falta de perspectiva para os homens, o diretor nos mostra uma realidade social, travestida de ficção. Basta ver os latinos, os asiáticos, os pobres e outros marginalizados vivendo nos guetos da cidade, enquanto o poder encastela-se no alto de gigantescos edifícios que abrigam os senhores da lei e da vida das pessoas. É uma atmosfera em constante opressão. Mostra o uso da Engenharia Genética voltada para a conquista do poder.
Blade Runner – O Caçador de Andróides – é uma adaptação da novela de Philip K. Dick e considerado um dos cult movie dos anos 1980, que conta a história de seres replicantes (androides) que fogem de uma colônia espacial e retornam a uma Los Angeles futurista, no ano 2019, na expectativa de encontrar modernos métodos científicos para prolongarem suas limitadas vidas. Esta obra foi severamente criticada quando de seu lançamento, sendo considerada um fracasso de bilheteria. Hoje, o público e os críticos reconhecem a grandeza do trabalho de Scott, alçado ao lugar de destaque que sempre mereceu. A simples passagem do tempo nos ensina; então, deixemos as precipitadas críticas de lado.
Ridley Scott buscou inspiração na obra de Fritz Lang, Metrópolis, filme feito em 1927, que fixou para sempre a imagem da cidade futurística. Talvez, se não fosse a mão firme e competente do diretor, este filme poderia ter trilhado o caminho daqueles que chamamos de mera ficção, embora, a crítica, como já dito, tenha tentado isto, mas não conseguiu.
Que querem os replicantes? Simplesmente o direito de viver um pouco mais. Infelizmente, o Poder não permite e começa uma caçada aos fugitivos. Jamais se apagará da minha memória a cena em que Rick Deckard (Harrison Ford) atira nas costas da fugitiva Pris (Daryl Hannah), e quando ela começa a cair quebrando as vidraças da loja, a música de Vangelis surge como um canto de despedida. É uma das trilhas sonoras das mais marcantes na história do cinema, como a de Nino Rota em O Poderoso Chefão.
Deckard, à medida que se desenrola o filme, volta-se para sua consciência. Questiona o sistema. Não vê sentido em matar; porque matá-los seria matar a si próprio. Ele é humano ou androide? Assista a este belíssimo filme de ficção e tire suas conclusões. O problema é que o extermínio não depende do que sente o implacável exterminador, pois se trata de uma ordem oficial e tem de ser cumprida, sob pena de represálias.
Rick Deckard e a replicante Rachel (Sean Young) enriquecem o enredo numa caça que vai além de uma missão imposta pela lei. Eles desenvolvem uma cumplicidade de erotismo e compaixão. Ambos envolvem-se num desejo contra a própria natureza, para, finalmente, poderem viver. Não podemos esquecer a brilhante participação de Rutger Hauer, no papel do androide Roy Batty e que nos brinda com uma cena marcante, quando, no crepúsculo de sua existência, diz: “Todos esses momentos vão se perder no tempo como lágrimas na chuva”. O que fazer para nossos momentos não se perderem no tempo? Vive-los com intensidade…
No mês de julho de 2007, o filme foi relançado em Veneza, depois de vinte e cinco anos, na versão final do diretor. Vale muito assisti-lo e mergulhar no mundo futurista desta imortal obra cinematográfica.
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