O cara tem clareza mental, mas sua alma enlouqueceu. Está morrendo, eu acho. Ele odeia isto. Ele odeia.
(Fotógrafo Hopper sobre Kurtz)
A GUERRA E A LOUCURA
Um filme realista sobre o Vietnã. Mais uma vez, Coppola revela seu talento ao expor o lado sombrio da guerra. No caos do campo de batalha, a linha entre sanidade e loucura se dissolve, e muitos combatentes perdem completamente o controle da realidade. Apocalypse Now mergulha fundo na alma humana, revelando a brutalidade a que os homens são submetidos. Para quem vê de longe, o conflito pode parecer distante, às vezes até irreal. Mas não é. Guerras são reais, e suas consequências são devastadoras.
O oficial Walter Kurtz (Marlon Brando) é declarado louco pelo alto comando. Portanto, ele deve morrer. As autoridades de Washington enviam o Capitão Willard (Martin Sheen) para cumprir a missão. Na busca, ele sobe o rio em um pequeno barco, onde os tripulantes vivem sob constante tensão. A selva os cerca e os intimida. Para aliviar o peso da espera, eles fumam maconha, bebem e ouvem música. Mas qualquer movimento em falso pode ser fatal – e inocentes morrem aos montes. Quando Willard executa uma mulher agonizante no barco, ele demonstra que nada o impedirá de concluir sua missão. Ele é o mensageiro do poder dos EUA.
O massacre de inocentes é retratado sem maquiagem. Ao som de Cavalgada das Valquírias, o Capitão Kilgore (Robert Duvall – Pacto de Justiça, 2003) se diverte enquanto suas metralhadoras despejam fogo impiedoso do alto, dizimando pessoas indefesas. É um exemplo perfeito de como a música pode intensificar o impacto visual e emocional de uma cena. A brutalidade do combate é exposta sem filtros, mostrando como a guerra corrompe até aqueles que entram nela com boas intenções.
O filme se baseia no romance No Coração das Trevas, de Joseph Conrad, que narra a jornada de um europeu até o ponto mais remoto do rio Congo, onde ele ergue um “altar” para comandar seus seguidores. No filme, os discípulos de Kurtz vivem num mundo apocalíptico, sem esperança, sem futuro – onde a loucura e o desespero reinam.
O filme escancara a selvageria da guerra e mostra que, no fim, a loucura pode ser a única resposta possível. Afinal, a realidade do nosso mundo não é tão diferente do cenário do filme. É apenas uma questão de ponto de vista. Portanto, reze, reze muito, para nunca enfrentar os horrores de uma guerra.
O encontro final entre Willard e Kurtz é aterrorizante e macabro. Cadáveres espalhados, dependurados nas árvores. O repórter-fotográfico (Dennis Hopper) vê Kurtz como um poeta guerreiro e parece perdido naquele mundo sombrio, como se estivesse preso em um “santuário” do qual não pode escapar. Willard cumpre sua missão. A cena de sua saída da água é como uma ascensão das profundezas do inferno para matar. E ele mata. Kurtz não reage. Apenas se entrega, sendo esquartejado impiedosamente pelo seu algoz.
Disse o crítico de cinema Roger Ebert: “Mas Apocalypse Now é o melhor de todos os filmes a respeito do Vietnã, um dos maiores filmes de todos os tempos, pois ele supera os demais ao perscrutar o lado escuro da alma”. (A Magia do Cinema)
Sem máscara, Marlon Brando (Caçada Humana, de 1966) faz sua despedida público neste filme. Afinal, o que realizou nos anos seguintes não faz jus à sua genialidade de outrora. Um filme para sempre.
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