“Não se vence. Não se vence este rio.”
(Lewis antes da agonia)
Existem filmes que não devem ser esquecidos; portanto, devemos revê-los e, ao mesmo tempo, despertar nos cinéfilos atuais um olhar para o passado. Isto nem sempre é fácil, uma vez que a comunicação de massa não divulga o cinema feito lá atrás. Existe uma neurose por lançamentos, até pelos que não prestam.
Aqui está uma obra merecedora de destaque. Um filme bem dirigido por John Boorman (Esperança e Glória, de 1987), que nos leva a um mergulho na natureza selvagem de homens desesperados, revelando a bestialidade de atos incivilizados. Infelizmente, estão acontecendo neste exato momento – há sempre um grito no escuro.
Aproveito para homenagear um ator relegado ao andar de baixo em Hollywood que é Burt Reynolds; na película, vive o aparente líder Lewis. Suas interpretações superam a de muitos canastrões premiados pela Academia – são tantas armações que já não sinto qualquer motivação para ver a festa do Oscar – que abre portas, sem dúvida, no mundo dos negócios. O elenco é completado por Jon Voight, Ronny Cox e Ned Beatty.
A trama mostra quatro amigos envolvidos na despedida de um rio que vai ser represado. O grupo desce as correntezas em duas canoas e tudo parece ser uma simples aventura. O início das filmagens mostra uma aparente tranquilidade no ambiente. Mas, sentimos que acontecimentos inesperados marcarão para sempre a vida dos aventureiros. O clima hostil que irá advir é sutilmente denunciado pelo diretor, quando no primeiro contato do grupo com os nativos, o garoto que toca banjo rejeita o cumprimento de Drew. A arma de fogo no carro é também uma amostra de que algo violento pode acontecer naquela atmosfera.
O filme é de uma crueza impressionante. Desde a dificuldade para se enterrar um homem sem ferramentas a uma subida no penhasco. Um dos momentos dolorosos é quando afundam o corpo do amigo Drew (Ronny Cox) na correnteza. Não era possível levar o cadáver; isso abriria uma investigação policial, e era preciso apagar os rastros da tragédia. Como explicar para a família que um deles ficou no fundo das águas? Nada disso é fácil, a não ser para os heróis infalíveis projetados nas telas.
É um trabalho que nos insulta para a realidade. Em algum momento de nossas vidas podemos nos deparar com uma situação como essa vivida pelas personagens, e aí é preciso ter atitude. Fora das telas a vida nos apresenta situações onde a fraqueza sepulta a trajetória de uma existência. A vida intensa e os desafios impostos não é para o indivíduo covarde – este vive a simples passagem do tempo se escondendo de si mesmo.
Há uma frase intrigante dita pelo seviciado Bobby (Beatty): existe algo nestas árvores e neste rio que nós perdemos nas cidades. O que será? É atrás das árvores onde estão os indivíduos cruéis e sádicos que infligem ao grupo uma intensa agonia. A violência desmedida não existe somente naqueles homens primitivos, está presente em todos os lugares. O perigo nos ronda.
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