A Insustentável Leveza do Ser (1988)

Algumas pessoas não mudam nunca. Alguns são sempre canalhas.
(Tomas)

Durante os protestos na cidade de Praga, capital da então Tchecoslováquia, contra a ocupação da temida União Soviética, cujo perverso sistema comunista deixou um rastro de maldades no Leste europeu; um médico chamado Tomas (Daniel Day-Lewis – Sangue Negro, de 2008), vive momentos inusitados na sua juventude. Mulheres entram na história para satisfação do desejo carnal do clínico. Duas jovens, a artista plástica Sabina (Lena Olin) e a fotógrafa acriançada Tereza (Juliette Binoche), dividem as atenções do desligado sedutor Tomas.

A trama se desenrola no ano de 1968, estação dos movimentos revolucionários que agitaram a Europa. Período em que se fumava dentro de hospitais e ninguém reclamava – inimaginável nos dias atuais. Olhar para trás sempre é bom, no contexto da época, atitudes hoje proibidas eram glamourosas.

Confesso que invejo àquele tempo, gostaria de ter participado daquelas manifestações de rua. Rever o filme mais de vinte e quatro anos depois é revisitar um lugar guardado na memória – a encantada mocidade. A cena em que Tereza com sua máquina Praktica fotografa pessoas nas ruas é saudosa. A música de fundo nos transporta para tempos passados. A trilha sonora é de Leos Janácek, Mark Adler e Ernie Fosselius.

O filme foi rodado em 1988, e teve direção de Philip Kaufman. Usando como foco a liberdade sexual e as amarras de um relacionamento sério, o diretor também visita o tema político.  Os protagonistas principais mudam seus rumos profissionais após a invasão soviética. Eles deixam seus lares e partem para viver em outros países, como Suíça e França, mas não se envolvem diretamente nos movimentos.

A narrativa do filme nos convida a questionar até que ponto suportamos a leveza de nosso ser. Tomas é de certo modo vazio, não consegue preencher sua vida – demonstra frieza com os acontecimentos, não vive as paixões com intensidade. Parece faltar algo! Sempre nos falta algo e sempre temos algo que reclamamos de seu peso para carregarmos. Talvez esse “peso” seja o que faça sentido dentro da nossa existência; afinal, muitas relações são sustentadas por um peso qualquer, pela dor ou mesmo pelo sentimento de culpa – só valorizamos aquilo que pesa. A vida é assim, muitas vezes somos obrigados a usar máscaras para nos proteger.

O triângulo amoroso não é fechado, uma vez que outras personagens permeiam sexualmente a vida de cada um deles; seja isto um simples prazer sexual ou mesmo a angústia de Tereza: como se pode fazer amor sem estar apaixonado? Ela experimenta isto e parece não gostar.

A Insustentável Leveza do Ser questiona não só a leveza, mas também o peso da vida, muito bem retratado pelo filósofo alemão Nietzsche, que no sentido mais amplo são os ciclos que vivemos na existência – angústia e prazer são ardores integrantes de uma mesma realidade que se alternam.

Trailer:

 

 

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Walter Filho

É Promotor de Justiça titular da 9a Promotoria da Fazenda Pública. Foi um dos idealizadores do PROCON de Fortaleza e ex-Coordenador Geral do DECON–CE. Participou e foi assistente de direção do premiado filme O Sertão das Memórias, dirigido pelo cineasta José Araújo. Autor dos livros: CINEMA - A Lâmina Que Corta e O CASO CESARE BATTISTI - A Palavra da Corte: A Confissão do Terrorista

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