Padre…Eu traí minha família. Eu o traí. Eu menti. A viagem será mais longa do que eu disse.
(COLOMBO – se confessando antes de partir)
É preciso voltar um pouco no tempo para entender a importância de uma aventura como esta mostrada nas telas pelo diretor Ridley Scott. O épico revive a odisseia de Cristóvão Colombo (Gérard Depardieu) – navegador genovês que rumou ao desconhecido sob o patrocínio da Coroa espanhola. A partida aconteceu no dia 03 de agosto de 1492, quando em uma nau galega (Santa Maria) e duas caravelas (Pinta e Nina), eles zarparam do porto de Palos e, no mesmo ano, avistaram terra firme na ilha de Guanahani, na costa da América Central. A nova terra foi denominada San Salvador.
O objetivo da empreitada era encontrar um caminho marítimo para as índias e, naqueles tempos, as expansões ultramarinas eram lideradas por Portugal e Espanha. Scott aproveitou os 500 anos de descobrimento da América e nos brindou com mais um trabalho notável. As suas obras são possuidoras de efeitos visuais de primeiríssima qualidade, onde é possível mergulhar no cenário e perceber a riqueza de sua ambientação. Seus filmes são muito cultuados, dentre os quais destacamos Blade Runner, de 1982, e Gladiador, de 2000.
Tudo é iniciado com a peregrinação de Colombo para convencer os espanhóis da importância de sua viagem, bem como conseguir fundos para patrociná-la. Ele enfrenta o desprezo dos políticos e a restrição dos religiosos. Contando com a ajuda de um banqueiro chamado Santangel e da Rainha Isabel de Castela (Sigourney Weaver), o destemido desbravador singrou mares e, assim, imortalizou seu nome na história dos descobrimentos.
O filme enfoca a trajetória árdua, os motins da tripulação, o cotidiano desgastante e a incerteza quanto ao rumo, principalmente, pela limitação de instrumentos capazes de dar precisão aos navegadores – na época os europeus utilizavam como recurso de navegação: a bússola, o astrolábio e a balestilha. Estes dois últimos usavam a localização dos astros como pontos de referência.
A chegada a terras estranhas é comemorada com êxtase – os conquistadores se jogam ao chão, Colombo se ajoelha e as bandeiras tremulam ao vento. A inesquecível trilha sonora (Conquest of Paradise, de Vangelis) permite-nos sentir o quanto a magia do cinema é capaz de encantar e revestir um acontecimento histórico de um brilho que só a grande tela pode projetar. Sabemos que a realidade foi diferente.
Depardieu (A Mulher do Lado, de 1981) tem um desempenho excelente, já Sigourney ( O Ano que Vivemos em Perigo, de 1982) é colocada à margem e seu papel é muito reduzido. Os cenários são belíssimos e recriam toda uma ambientação que guarda sintonia com o tempo retratado. A construção da cidade e o sino da igreja católica representam o poder e a religiosidade dos dominantes. É a imposição de uma cultura colonizadora, que muito mal causou aos nativos. Os católicos queriam novos fiéis e os reis absolutistas riquezas, principalmente, ouro.
Colombo foi injustiçado e traído pelos poderosos – que eram tão ambiciosos quanto ele. A história recobrou sua honra aviltada. Ele não comungava com o medo imposto pelos religiosos e tampouco com as mentiras sobre a forma do mundo, pois tinha plena consciência de que a terra era redonda. Sua coragem rompeu barreiras em um tempo mergulhado na escuridão e que era iluminado esporadicamente por pequenas fogueiras que queimavam aqueles que duvidavam da fé oficial. Lembrem-se: o medo devora a alma.
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